quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


REDESCOBRIR A ORAÇÃO




Exercício para alcançar qualidade de vida

A oração é um exercício fundamental na busca pela qualidade de vida. Nas indicações que não podem faltar, especialmente para a vida cristã, estão a prática e o cultivo disciplinado da oração. É um exercício que tem força incomparável em relação às diversas abordagens de autoajuda, como livros e DVDs, muito comuns na atualidade.

A crise existencial contemporânea, em particular na cultura ocidental, precisa redescobrir o caminho da oração para uma vida de qualidade. Equivocado é o entendimento que pensa a oração como prática exclusiva de devotos. A oração guarda uma dimensão essencial da vida cristã. Cultivar essa prática é um segredo fundamental para reconquistar a inteireza da própria vida e fecundar o sentido que a sustenta.

É muito oportuno incluir entre as diversificadas opiniões, junto aos variados assuntos discutidos cotidianamente, o que significa e o que se pode alcançar pelo caminho da oração. Perdê-la como força e não adotá-la como prática diária é abrir mão de uma alavanca com força para mover mundos. A fé cristã, por meio da teologia, tem por tradição abordar a importância da oração ao analisar a sua estrutura fundamental, seus elementos constitutivos, suas formas e os modos de sua experiência. Trata-se de uma importante ciência e de uma prática rica para fecundar a fé.

Assista: Catequese do Papa Bento XVI sobre a oração.


A oração tem propriedades para qualificar a vida pessoal, familiar, social e comunitária. Muitos podem desconhecer, mas ela [oração] pode ser um laço irrenunciável com o compromisso ético. É prática dos devotos, mas também um estímulo à cidadania. Ao contrário de ser fuga das dificuldades, é clarividência e sabedoria, tão necessários no enfrentamento dos problemas. Na verdade, a prece faz brotar uma fonte interior de decisões, baseadas em valores com força qualitativa.

A oração, como prática e como inquestionável demanda, no entanto, passa por uma crise por razões socioculturais. Aliás, uma crise numa cultura ocidental que nunca foi radicalmente orante. O secularismo e a mentalidade racionalista se confrontam com aspectos importantes da vida oracional, como a intercessão e a contemplação. Diante desse cenário, é importante sublinhar: paga-se um preço muito alto quando se configura o caminho existencial distante da dimensão transcendente. O distanciamento, o desconhecimento e a tendência de banir o divino como referencial produzem vazios que atingem frontalmente a existência.
É longo o caminho para acertar a compreensão e fazer com que todos percebam o horizonte rico e indispensável da oração. Faz falta a clareza de que existem situações e problemas que a política, a ciência e a técnica não podem oferecer soluções, como o sentido da vida e a experiência de uma felicidade duradoura. A oração é caminho singular. É, pois, indispensável aprender a orar e cultivar a disciplina diária da oração. Trata-se de um caminhar em direção às raízes e ao essencial. Nesse caminho está um remédio indispensável para o mundo atual, que proporciona mais fraternidade e experiências de solidariedade.

A lógica dominante da sociedade contemporânea está na contramão dessa busca. Os mecanismos que regem o consumismo e a autossuficiência humana provocam mortes. Sozinho, o progresso tecnológico, tão necessário e admirável, produz ambiguidades fatais e inúmeras contradições. Orar desperta uma consciência própria de autenticidade. Impulsiona à experiência humilde do próprio limite e inspira a conversão. É recomendação cristã determinante dos rumos da vida e de sua qualidade. A Igreja Católica tem verdadeiros tesouros, na forma de tratados, de estudos, de reflexões, e de indicações para o cultivo da oração, que remetem à origem do Cristianismo, quando os próprios discípulos pediram a Jesus: “Ensina-nos a orar”. É uma tarefa missionária essencial na fé, uma aprendizagem necessária, um cultivo para novas respostas na qualificação pessoal e do tecido cultural sustentador da vida em sociedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

COMO VIVER A QUARESMA?



Como viver o tempo da Quaresma?

Crie em sua casa ou no seu quarto um ambiente convidativo à oração
A Quaresma é um tempo de graça, um verdadeiro Kairós, tempo da manifestação de Deus. Este tempo tem como característica duas realidades muito importantes: 1. Olhar para Jesus; 2. Conversão.
Neste tempo, somos levados pela Igreja a seguir Jesus em seus últimos momentos de vida para – junto com Ele – aprendermos o que é o amor e a misericórdia. Por diversas vezes, o Senhor vai se revelando como o rosto misericordioso do Pai, assumindo até as últimas conseqüências a vontade do Pai, que é salvar a cada filho. É um caminho de “subida”, não só para Jerusalém, mas até o mais alto grau do amor que se concretiza na cruz.
Jesus, muitas vezes, vai anunciar sua Paixão dizendo que o Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado e morto, mas no terceiro dia ressuscitará. Vemos nesses anúncios também o desejo do Senhor de se entregar. Está aí a sua disposição em dar até a própria vida em nosso resgate. Ele não somente falou a respeito do amor que se revela ao dar a vida pelos amigos, mas o fez em sua própria vida. Assim, tornou-se o exemplo mais sublime que devemos seguir para realmente sermos felizes.
Quaresma é também conversão, revisão de vida e mudança de atitude.Tudo concorre para isso nesse período: a liturgia, os cânticos, as orações. É tempo de olhar para tudo o que temos vivido e como temos vivido: nossos relacionamentos em casa, no trabalho, na escola, nosso relacionamento com Deus. Será que Ele tem sido o nosso tudo? Nossa relação com Ele é de confiança, de intimidade e amor?
Quaresma é tempo do perdão. O profeta Isaías nos diz no capítulo 30, 18: “Em vista disso, o Senhor espera a hora de vos perdoar. Ele toma a iniciativa de mostrar-vos compaixão, pois o Senhor é um Deus justo – felizes os que nele esperam”.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

REFLETINDO COM O PADRE FÁBIO DE MELO



Eu sempre acho que às vezes na vida, a gente vive tão mal, às vezes a gente precisa perder as pessoas pra descobrir o valor que elas têm. Às vezes as pessoas precisam morrer pra gente saber a importância que elas tinham, e isso uma vez na minha vida isso aconteceu. Estava eu na minha casa de manhã, quando recebi um telefonema que minha irmã estava morta, minha irmã mais nova, cheia de vida de repente não existe mais.
Fico pensando assim, que às vezes na vida o ensinamento mais doído seja esse, quando na vida nos já não temos mais a oportunidade de fazer alguma coisa, e o inferno talvez seja isso, a impossibilidade de mudar alguma situação.
E quando as pessoas morrem já não á mais o que dizer, porque mortos não podem perdoar, mortos não podem sorrir, mortos não podem amar, nem tão pouco ouvir de nos que nos os amamos.
Eu me lembro que uma semana antes de minha irmã morrer, ela havia me ligado, foi à última vez que eu falei com ela e eu me recordo que naquele dia, eu estava apressado muita coisa pra fazer, e fiz questão de desligar o telefone rápido, sabe quando você fala, mas fala na correria porque você tem muita coisa pra fazer? E foi assim, se eu soubesse que aquela era a última oportunidade de ver minha irmã, de olhar nos olhos dela, de falar com ela, eu certamente teria esquecido toda a pressa, porque quando a vida é assim, e você sabe que é a ultima oportunidade, você não tem pressa pra mais nada, já não há mais o que eu fazer, e essa é a beleza da última ceia de Jesus.
Não há pressa, o momento é feito para celebrar, a mística da última ceia está ali, Jesus reúne aqueles que pra ele tinha um valor especial, inclusive o traidor estava lá.
E eu descobrir com isso, com a morte da minha irmã, q eu não tenho o direito de esperar amanhã pra dizer que amo, pra perdoar, para abraçar, dizer que é importante que é especial.
Não! O amanhã eu não sei se existe, mas o agora eu sei que existe, e às vezes na vida nos perdemos... Eu me lembro quantas vezes na minha vida de irmão com ela, nos passávamos uma semana sem nos falarmos, por que ouve uma briga uma confusão, a gente se dava o luxo de passar uma semana sem se falar, e hoje eu ano tenho mais nem 5 minutos pra conversar com alguém que foi importante, que foi parte de mim.
Não espere as pessoas morrerem, irem embora, não espere o definitivo bater na sua porta, nos não conhecemos a vida e não sabemos o que virá amanhã, viva como se fosse o último dia da sua história, se hoje você tivesse que realizar a sua última ceia, porque é conhecedor que hoje é o último de sua vida, certamente você não teria tempo pra pressa. Você celebraria até o fim e gostaria de ficar no lado de quem você ama. Viver o cristianismo, é fazer a dinâmica da última ceia todos os dias, viva como se fosse o ultimo dia da sua vida, viva como se fosse a ultima oportunidade de amar quem você ama, de olhar nos olhos de quem pra você é especial.
E depois que minha irmã morreu um tempo bem passado, eu descobrir porque eu gostava tanto dessa musica que vou cantar agora, ela não fala de um amor que foi embora, o compositor fez para a filha que morreu em um acidente, então, fica muito mais especial cantá-la e descobrir o cristianismo que está no meio das palavras, por que é assim, quando o outro vai embora é que a gente descobre o tamanho do espaço que ele ocupava.
“Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou em minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!

Agora o triste da música é que a gente precisa conjugar o verbo no passado, a pessoa já morreu, já não a mais o que fazer, mas não tem nenhum sofrimento nessa vida que passe por nos sem deixar nenhum ensinamento,...tem que nos ensinar, não dá pra sofrer em vão, alguma coisa a gente tem que extrair...extraia o sofrimento e descubra o ensinamento. Se ele algum dia me tocou e me deixou algum ensinamento eu faço questão de partilhá-lo com você agora. Depois da morte da minha irmã eu faço questão de viver a vida como se fosse o ultimo dia.
Já que o passado é coisa do inferno e a gente não ta no passado, muito menos no inferno...resta a possibilidade de mudar o verbo de trazê-lo para o presente e de cantá-lo olhando para as pessoas que são especiais, quem sabe cantando pra ela nesse momento...se ela ta do seu lado, se você tem algum amigo que mereça ouvir isso de você, alguém que faz diferença na sua história...ao invés de você dizer que gostava, você diz que gosta!
Vamos mudar o verbo! Vamos amar a vida! Vamos amar as pessoas antes que elas vão embora!
E eu...EU GOSTO TANTO DE VOCÊ! EU GOSTO TANTO DE VOCÊ!
Padre Fábio de Melo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A ORAÇÃO CRISTÃ



 Oração Cristã e Bíblia

A oração não faz mudar Deus de opinião, mas transforma o coração da pessoa humana, capacitando-a para sintonizar com Deus e receber os seus dons. Na verdade, a oração cristã não é uma forma mágica de manipular a Deus. Enquanto oramos, estamos a abrir o coração à Palavra de Deus e à acção restauradora e santificadora do Espírito Santo. Quando abrimos o coração à dinâmica do Espírito Santo, este vai-nos configurando interiormente com Cristo Ressuscitado.

A oração é uma maneira privilegiada de o crente entrar na intimidade da Santíssima Trindade pela mediação de Cristo Ressuscitado que nos confere o dom da interacção intrínseca com o Espírito Santo. É este o modo de o Espírito Santo actuar em Cristo, pondo em interacção directa a interioridade espiritual do Homem Jesus com a interioridade espiritual do Filho Eterno de Deus.

Ao predispor o nosso coração a acolher os dons de Deus, a oração dinamiza as nossas forças espirituais capacitando-nos para acolher dons fundamentais para a felicidade humana, tais como libertação interior, paz, alegria. Além disso pode operar em nós uma optimização física ou psíquica, a qual pode resultar em curas tanto de nível somático como psíquico.

A oração também nos capacita para sermos capazes de integrar e desdramatizar problemas e dificuldades que não tenhamos conseguido resolver. Ao estimular a confiança em Deus, a oração liberta-nos do medo, como diz o salmo vinte e sete: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação, que hei-de temer? O Senhor protege-me dos perigos, por que razão hei-de tremer?” (Sal 27,1).

Mediante a oração, a pessoa reforça a certeza de que Deus é fiel e verdadeiro e que jamais nos abandona. Por isso podemos fortalecer a certeza de que nada nos pode separar de Deus, como diz São Paulo: “Se Deus está por nós, quem poderá estar contra nós? Se Deus não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós, como não nos dará todos os bens juntamente com ele?” (Rm 8, 31-32) .

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2012

TEMA: Fraternidade e Saúde Pública
LEMA: "Que a saúde se difunda sobre a Terra."


QUARESMA: PENITÊNCIA E ORAÇÃO


Tempo da Quaresma

Na linguagem corrente, a Quaresma abrange os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até ao Sábado Santo. Contudo, a liturgia propriamente quaresmal começa com o primeiro Domingo da Quaresma e termina com o sábado antes do Domingo da Paixão.
A Quaresma pode se considerar, no ano litúrgico, o tempo mais rico de ensinamentos. Lembra o retiro de Moisés, o longo jejum do profeta Elias e do Salvador. Foi instituída como preparação para o Mistério Pascal, que compreende a Paixão e Morte (Sexta-feira Santa), a Sepultura (Sábado Santo) e a Ressurreição de Jesus Cristo (Domingo e Oitava da Páscoa).
Data dos tempos apostólicos a Quaresma como sinônimo de jejum observado por devoção individual na Sexta-feira e Sábado Santos, e logo estendido a toda a Semana Santa. Na segunda metade do século II, a exemplo de outras igrejas, Roma introduziu a observância quaresmal em preparação para a Páscoa, limitando porém o jejum a três semanas somente: a primeira e quarta da atual Quaresma e a Semana Santa.
A verdadeira Quaresma com os quarenta dias de jejum e abstinência de carne, data do início do século IV, e acredita-se que, para essa instituição, tenham influído o catecumenato e a disciplina da penitência pública.
O jejum consistia originariamente numa única refeição tomada à tardinha; por volta do século XV tornou-se uso comum o almoço ao meio-dia. Com o correr dos tempos, verificou-se que era demasiado penosa a espera de vinte e quatro horas; foi-se por isso introduzindo o uso de se tomar alguma coisa à tarde, e logo mais também pela manhã, costume que vigora ainda hoje. O jejum atual, portanto, consiste em tomar uma só refeição diária completa, na hora de costume: pela manhã, ao meio-dia ou à tarde, com duas refeições leves no restante do dia.
A Igreja prescreve, além do jejum, também a abstinência de carne, que consiste em não comer carne ou derivados, em alguns dias do ano, que variam conforme determinação dos bispos locais.
No Brasil são dias de jejum e abstinência a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira santa. Por determinação do episcopado brasileiro, nas sextas-feiras do ano (inclusive as da Quaresma, exceto a Sexta-feira Santa) fica a abstinência comutada em outras formas de penitência.
Praticar a abstinência é privar-se de algo, não só de carne. Por exemplo, se temos o hábito diário de assistir televisão, fumar, etc, vale o sacrifício de abster-se destes itens nesses dias. A obrigação de se abster de carne começa aos 15 anos. A obrigação de jejuar, limitando-se a uma refeição principal e a duas mais ligeiras no decurso do dia, vai dos 21 aos 59 anos. Quem está doente (e também as mulheres grávidas) não está obrigado a jejuar.

“Todos pecamos, e todos precisamos fazer penitência”, afirma São Paulo. A penitência é uma virtude sobrenatural intimamente ligada à virtude da justiça, que “dá a cada um o que lhe pertence”: de fato, a penitência tende a reparar os pecados, que são ultrajes a Deus, e por isso dívidas contraídas com a justiça divina, que requer a devida reparação e resgate. Portanto, a penitência inclina o pecador a detestar o pecado, a repará-lo dignamente e a evitá-lo no futuro.
A obrigatoriedade da penitência nasce de quatro motivos principais, a saber:
1º. - Do dever de justiça para com Deus, a quem devemos honra e glória, o que lhe negamos com o nosso pecado;
2º.- da nossa incorporação com Cristo, o qual, inocente, expiou os nossos pecados; nós, culpados, devemos associar-nos a ele, no Sacrifício da Cruz, com generosidade e verdadeiro espírito de reparação.
3º.- Do dever de caridade para com nós mesmos, que precisamos descontar as penas merecidas com os nossos pecados e que devemos, com o sacrifício, esforçar-nos por dirigir para o bem as nossas inclinações, que tentam arrastar-nos para o mal;
4º.- do dever de caridade para com o nosso próximo, que sofreu o mau exemplo de nossos pecados, os quais, além disso, lhe impediram de receber, em maior escala, os benefícios espirituais da Comunhão dos Santos.
Vê-se daí quão útil para o pecador aproveitar o tempo da Quaresma para multiplicar suas boas obras, e assim dispor-se para a conversão.

Segundo os Santos Padres, a Quaresma é um período de renovação espiritual, de vida cristã mais intensa e de destruição do pecado, para uma ressurreição espiritual, que marque na Páscoa o reinício de uma vida nova em Cristo ressuscitado.
A Quaresma tem por escopo primordial incitar-nos à oração, à instrução religiosa, ao sacrifício e à caridade fraterna. Recomenda-se por isso a freqüência às pregações quaresmais, a leitura espiritual diária, particularmente da Paixão de Cristo, no Evangelho ou em outro livro de meditação.
O jejum e abstinência de carne se fazem para que nos lembremos de mortificar os nossos sentidos, orientando-os particularmente ao sincero arrependimento e emenda de nossos pecados.
A caridade fraterna — base do Cristianismo — inclui a esmola e todas as obras de misericórdia espirituais e corporais.
Fonte: Missal Romano



sábado, 18 de fevereiro de 2012

OS CRISTÃOS E O CARNAVAL


"Vós sois o sal da Terra . . . Vós sois a Luz do mundo . . . (Mt 5)"



OS VALORES CRISTÃOS E O CARNAVAL

Espetáculo para turistas e oportunidade aos menos escrupulosos

O carnaval é uma realidade. Ele aí está e penetra pelos olhos. Melhor dizendo, já vivemos esse clima há várias semanas.
Todo indivíduo sente necessidade de alegria. Sem ela, a existência se torna insuportável. A própria saúde física se ressente. Diz a Sagrada Escritura, no livro Eclesiastes (9, 15ss): “Por isso louvei a alegria, visto não haver nada de melhor para o homem (...) é isto que o acompanha no seu trabalho, durante os dias que Deus lhe outorgar debaixo do sol”. E o Senhor, nos Provérbios (2,14-15), lembra que há limites, pois são reprovados os “que se alegram por terem feito o mal e se regozijam na perversidade do vício, cujos caminhos são tortuosos e se extraviam por vias oblíquas”.
Os festejos carnavalescos têm remota e obscura origem eclesiástica. Tanto assim que dependem de uma data móvel do calendário litúrgico. Antecedem sempre o início da Quaresma. Terminam – quando terminam - com as cinzas da quarta-feira. E a Igreja, em seu ritual, recorda ao homem a fragilidade de sua condição: “Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás de tornar”.
Encaro com realismo esses dias ruidosos. Devemos ter a coragem de avaliar o que ocorre na Cidade. Por vezes, assumem proporções de verdadeiras orgias coletivas, com crescente degradação dos padrões morais e agressão à dignidade humana.
O carnaval perde, aos poucos, seu sentido original de diversão simples do próprio povo. Vem a ser mais um espetáculo para turistas, e oportunidade aos menos escrupulosos de extravasar baixos instintos, esperando contar com certa cumplicidade do meio ambiente. Aumentam os crimes, os atentados ao pudor, as violências e o excesso de álcool. Cresce o consumo das drogas, que geram os “dependentes”, porque usaram abusivamente sua “independência”.
O corpo humano tem uma dignidade inalienável. Não pode ser profanado pelo exibicionismo desregrado. Aviltar dessa maneira a beleza é atingir o próprio Deus, de onde emana tudo o que temos de positivo. São Paulo nos ensina: “Fugi da fornicação. Todo pecado, que o homem comete, é exterior ao seu corpo; aquele, porém, que se entrega à fornicação, peca contra o próprio corpo"! Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo?” (1Cor 6,18-19). E o Apóstolo é incisivo: “Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá” (Idem 3,17).
Em uma cidade onde persistem tão grandes carências básicas, são feitos gastos suntuosos de brevíssima utilização, com os efeitos negativos. Tentam acobertá-los sob o pretexto de divisas ou razões semelhantes. Também a gente humilde se impõe pesadas privações para ostentar galas efêmeras. É despendido em poucos dias ou em horas o que se economizou durante o ano inteiro, talvez com sacrifício da alimentação da própria família. Explicações ou motivos alegados não justificam essa dura realidade.
Compreendo a necessidade da descontração na vida de um povo sofrido. Entendo também que há limites. Ultrapassá-los é cair na insensatez coletiva.
Não tenho a ingenuidade de pretender reviver padrões de comportamento de um passado que não volta. Insisto, isto sim, em afirmar que há formas nobres, simples e sadias de lazer. Elas irradiam a alegria autêntica que refaz as forças do corpo e aumenta as energias do espírito. Igualmente, não nego aspectos positivos nesses festejos. Contudo, tomados como um todo, merecem restrições ditadas pelo mais elementar bom senso.
Que fazer, então? Refletir, durante esses dias, sobre as conseqüências que poderão advir. Isso nos conduz a uma indispensável moderação, distinguindo, do que há de aceitável, aquilo que encerra em seu bojo condenáveis manifestações de baixos instintos. Afinal, somos seres racionais e não simples animais, destituídos de razão. Isso nos possibilita selecionar, o que é saudável, nesse período que antecede a Quaresma e rejeitar o que fere uma consciência cristã. Assim evitamos desgraças irrecuperáveis.
Recordamos o que nos diz João Paulo II: “Tenho diante dos olhos a imagem da geração de que fazemos parte: a Igreja compartilha a inquietude de não poucos homens contemporâneos. E no entanto, há que preocupar-se ainda com o declínio de muitos valores fundamentais, que constituem um bem incontestável, não só da moral cristã mas também, simplesmente, da moral humana, da cultura moral” (Encíclica “Dives in Misericordia”).
Por uma submissão generosa, o homem prudente orienta seu procedimento, discernindo o aceitável e repudiando tudo aquilo que contraria frontalmente nossa qualidade de filhos de Deus. Temos que compreender nossa época, inseridos que somos no mundo, mas é preciso coragem para reprovar o que se opõe à dignidade humana, fundamentada no Evangelho de Cristo. Muitos são severos nos julgamentos, aliás justos, da corrupção pública. Costumam, entretanto, omitir-se nesse outro tipo de devassidão coletiva, igualmente conseqüência de uma sociedade impregnada de critérios materialistas.
Dezenas de milhares de católicos que não saem do Rio participam de retiros espirituais. Como exemplo, o Retiro Rio de Água Viva, promovido pela Renovação Carismática Católica. Foi iniciado em 1981, em uma paróquia, reunindo 300 pessoas, gradativamente foi crescendo, levando os organizadores a realizá-lo no Ginásio do Maracanãzinho. Durante muito tempo reuniu milhares de adultos e jovens, do sábado à terça-feira de carnaval, sempre de 9 às 18 horas. Hoje, devido às obras desse local, é utilizado o ginásio esportivo de um grande colégio. São quatro dias em que as pessoas acorrem ao sacramento da confissão, atendidas diariamente por dezenas de sacerdotes; participam intensamente da celebração da Eucaristia e de outros atos de piedade.
Recordo-me que num determinado ano, ao encerrar esse retiro, a assistência aproximada era de 20.000 pessoas, em parte ponderável composta por jovens. Em muitos outros locais são promovidos retiros espirituais em regime de internato e também retiros menores nas paróquias, que têm significativa presença. Em muitas igrejas o Santíssimo Sacramento é exposto e atos de reparação pelos pecados cometidos são realizados.
Quando, no estrangeiro, ouço referências desabonadoras ao Rio de Janeiro, a propósito de excessos ocorridos no Carnaval, costumo lembrar que a cidade, nesses dias, possui, também, outra face, que nobilita seus habitantes. E cito esses retiros, para que tenham uma idéia correta de nossa realidade.
Recentemente, tive notícia que denigre o nosso país. Um determinado site – e pelo visto não é o único – faz propaganda de turismo no Rio, no carnaval, apresentando cenas de festas regadas à bebida e exploração da figura feminina. Pelo visto, o Rio de Janeiro e outras capitais só podem merecer visitantes que se interessem por isso.
O carnaval constitui um desafio. Deve nos impulsionar a alguma atitude positiva, distinguindo o direito ao lazer dos abusos oriundos dos desvios morais, tentam obscurecer a nobreza do espírito. Os excessos – e aí está o que há de condenável nesses festejos – em vez de deixarem o ânimo abatido no cristão, estimulam nossa confiança no Salvador, possibilidade de recuperação, sempre latente no íntimo de nossos irmãos. Condenemos o mal, mas confiemos no poder de Deus.
Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



O Coração de Jesus é o foco do amor. A devoção ao Sagrado Coração é a devoção que vem do amor como princípio, que se dirige ao amor como fim, que emprega o amor como meio. Celebrando este grande Amor de Deus por nós, somos convidados a renovar nossa devoção a Jesus, manifestado concretamente na vivência deste amor na família, na Igreja Doméstica, na partilha do pão, na alegria de celebrar em comunidade a Eucaristia, Vida de Jesus entregue por nós.

Origem da Devoção
A devoção ao Sagrado Coração tem sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus por você. Este amor chega a seu ponto alto com a vinda de Jesus.
A devoção ao Sagrado Coração aparece em dois acontecimentos fortes do evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade. Estes dois exemplos do evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus, feito em 1675, a Santa Margarida Maria Alacoque:
"Eis este coração que tanto tem amado os homens. Não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios, indiferenças...
Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o Meu coração, comungando neste dia e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares.
E prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino Amor sobre os que tributem esta divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada."
O papa João Paulo II sempre cultivou esta devoção, e a incentivava a todos que desejassem crescer na amizade com Jesus.

O Sagrado Coração de Jesus e Santa Maria Alacoque
O Sagrado Coração de Jesus apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque, jovem religiosa da Ordem da Visitação, para transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança, expressa no coração humano e divino do Verbo Encarnado. O Culto ao Sagrado Coração de Jesus obteve, a partir de então, grande impulso e espalhou-se por toda a Igreja.
Santa Margarida Maria, que recebeu a missão de espalhar pelo mundo a devoção ao Sagrado Coração ofendido pela ingratidão dos homens, foi incompreendida e perseguida, até que a Providência colocou em seu caminho o jesuíta São Cláudio La Colombière, que lhe deu orientação segura e conseguiu fazer com que sua mensagem começasse a ser vista com outros olhos. Canonizada em 1920, sua festa é celebrada no dia 16 de outubro.
Promessas do Sagrado Coração de Jesus a Santa Maria Alacoque
* Eu lhes darei todas as graças necessárias para seu estado.
* Eu darei paz às suas famílias.
* Eu as consolarei em todas as suas aflições.
* Eu lhes serei um refúgio seguro durante a vida, e sobretudo na hora da morte.
* Eu lançarei abundantes bênçãos sobre todas as sua empresas.
* Os pecadores acharão, em meu coração, a fonte e o oceano infinito de misericórdia.
* As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas.
* As almas fervorosas se elevarão a uma grande perfeição.
* Eu mesmo abençoarei as casas onde se achar exposta e honrada a imagem do meu coração.
* Eu darei aos sacerdotes o poder de tocar os corações mais endurecidos.
* As pessoas que propagarem esta devoção terão para sempre seu nome inscrito no meu coração.
* Darei a graça da penitência final e dos últimos sacramentos, aos que comungarem na primeira sexta-feira de nove meses seguidos.
Pensamentos de Santa Margarida Maria
“Nunca desconfieis da misericórdia do Sagrado Coração, que é infinitamente maior que todas as nossas misérias”.
“O Sagrado Coração quer reinar no coração do mundo inteiro porque todos lhe foram dados por herança”.
“O maior testemunho de amor que podemos dar ao Sagrado Coração e a melhor reparação que lhe podemos oferecer é unirmo-nos a Ele, muitas vezes, pela comunhão sacramental e desejarmos ardentemente essa união pela comunhão espiritual”.
“Todos podemos ser apóstolos do Sagrado Coração, porque temos corpos capazes de sofrer e trabalhar, e corações para amar e orar”.
*Do livro “O Coração de Jesus, segundo a doutrina de santa Margarida Maria Alacoque”.

S. Margarida Maria Alacoque recebe as revelações
do Sagrado Coração de Jesus
[Igreja do "Gesù Nuovo" - Nápoles]

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Jornada Mundial da Juventude Rio2013 já começou!



Um dos maiores legados de uma Jornada Mundial da Juventude é a unidade. Quem participa de uma JMJ pode ver e sentir no coração o povo de Deus falando uma só linguagem: a do amor.
Durante o encontro as diversas culturas e espiritualidades convivem e se entendem. Alguém que observa do ‘lado de fora’ pode questionar como tantas línguas e raças não se tornam uma ‘babel’. Ao contrário, a juventude reunida ao redor do Papa dá um testemunho vivo de fé e de esperança em um mundo diferente, melhor.
A próxima Jornada, que acontecerá no Rio de Janeiro em 2013, já começou a dar esses frutos no Brasil. E isso pode ser comprovado dia a dia desde a chegada dos símbolos da JMJ ao país, em setembro. Todas as dioceses do Brasil já estão mobilizadas para viver esse tempo de graça.
A Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora têm sido carregados, literalmente, por milhares de jovens. A chegada, na capital de São Paulo, no Bote Fé, reuniu mais de 100 mil pessoas no local, e outros tantos milhões, que acompanharam pelos meios de comunicação, todos no desejo de estar ao redor da cruz de Cristo.
A entrega da Cruz, de uma diocese a outra, vai muito além de uma cerimônia formal ou obrigatória. A Cruz é passada de mão em mão, de ombro a ombro, entregando vidas e sonhos.
O Setor Juventude da CNBB, responsável pela peregrinação dos símbolos da Jornada, tem sido um grande incentivador da unidade nesse caminho. Em cada cidade e regional é preparada uma verdadeira festa, um ato de comunhão. E tudo isso pode ser acompanhado através da cobertura feita pelos jovens, que conseguiram plantar ao longo desse percurso uma grande rede de partilha, através do site dos jovens conectados.
Quantas vezes temos nos emocionado ao ler os relatos da peregrinação. Quem ama a Jornada ou mesmo quem ainda está começando nesse amor gostaria de estar presente em todos esses momentos. Se isso não é possível fisicamente, se torna viável virtualmente, graças à dedicação desses jovens.
Pode-se sentir no ar, a soprar pelo Brasil, um tempo novo de avivamento. Não deixemos escapar essa graça, essa chance de evangelizar através da vida nova que conhecemos em Cristo.
Os símbolos da JMJ ainda têm um longo caminho a percorrer em todos os cantos do país. Acompanhemos atentos e de coração aberto tudo que o que ainda está por acontecer. A Arquidiocese do Rio de Janeiro se une em oração a todas as dioceses e se coloca disponível para acolher os jovens de todo o mundo.
A Jornada de 2013 já começou. Deus seja louvado pelos frutos que já experimentamos e pelo melhor que ainda está guardado.

MARIA: ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE




Maria não recebe, como Pedro, as chaves do Reino, nem recebe, como os apóstolos, o mandato de percorrer o mundo pregando o Evangelho. Maria não escreve o relato de quando viveu, como fazem os evangelistas, nem sérios tratados como os teólogos. Sem dificuldades, sua influência na Igreja, tanto no tempo dos Apóstolos como em todos os séculos que se seguiram desde então, é muito maior que dos Apóstolos, Papas, Teólogos e Evangelizadores.
A que se deve sua influência? A sua condição de Mãe de Deus e de nossa intercessora junto a Ele. Como Mãe, possui as chaves do coração de Deus. Como intercessora, e não tem deixado de usá-las de geração em geração.
São João da Cruz nos dá uma lindíssima explicação direta acerca da eficácia desta intercessão mariana: "Não há obra melhor e mais necessária- nos diz - que o amor. Quando alguém alcança este estado de união em amor, não lhe convém ocupar-se em outras obras, nem de exercícios exteriores, que podem lhe tirar a sua atenção de Deus, porque é mais proveitoso estar diante de Deus... Um pouquinho deste amor puro faz mais proveito à Igreja, mesmo que pareça nada fazer, que todas as outras obras juntas... Atentem, pois, aqui os que são muito ativos, que pensam levar ao mundo com suas pregações e obras exteriores, que muito mais proveito fariam à Igreja e agradariam muito mais à Deus, se sequer gastassem a metade deste tempo estando em oração" (Cântico Espiritual, cap. 29, 2).
Maria sempre viveu neste estado de união perfeita com Deus por amor. Pertenceu sempre e completamente à Deus e Deus à ela. Daí sempre Ter atuado em conseqüência: tratando de obter para nós, mediante a sua intercessão, tudo aquilo que depende do poder de Deus: saúde física e espiritual, superação das dificuldades da vida, etc.
UMA INTERCESSORA DE POUCAS PALAVRAS
João nos apresenta à Maria em duas ocasiões chave: em Caná e no Gólgota.
Em ambas Jesus se dirige a ela chamando-lhe de "Mulher". E em ambas Maria acompanha o filho como co-intercessora e como modelo de intercessão.
"Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia e achava-se a mãe de Jesus" (João 2,1).
Recordemos: a presença de Maria em nossas vidas é o melhor convite e garantia da presença de Jesus.
"Eles já não tem vinho."
Pensemos: na cultura mediterrânea , a falta de vinho em uma boda constituía um desastre traduzido em uma grande vergonha para os recém-casados. Ninguém, nem os noivos, nem o mordomo, ninguém havia se dado contade tal situação. Só Maria que observava a todos com olhos de mãe.
Nada como o amor para aguçar a visão, não para reparar os defeitos, mas para ver as necessidades do próximo, assim como as possibilidades de solução. Assim diz um ditado hebreu: "Como Deus não pode estar em todas as partes para atender a todos, então criou as mães."
Se observarmos tudo "pela ótica do coração" , descobriremos constantemente necessidades alheias, e às vezes muito urgentes. Algumas, nós mesmos podemos solucionar. Outras - as más - apresentamos em oração silenciosa e intercessora diante de quem pode solucionar tudo. A intercessão é muito mais eficaz do que ficar murmurando. Muito mais do que este gesto habitual de levarmos as mãos à cabeça e lamentarmos , que, além de importuno, é terrivelmente ineficaz.
A intercessão de Maria não pôde ser mais breve:
"Eles já não tem vinho."
Cinco palavras. Nada de explicações a quem tudo sabe. Nada de argumentações para convencer a quem é toda a bondade. Nada de aconselhamentos e sugestões a quem tudo pode. A eficácia de nossa oração não depende da lucidez de nossas argumentações nem da eloquência de nossas palavras, nem da perfeição de nossos ritos, nem da sonoridade de nossos cantos. Depende unicamente da nossa fé e esperança no Senhor, assim como nosso amor ao próximo.
Quantas palavras desnecessárias em nossas orações pessoais e comunitária!
Certos de que o que importa unicamente é a fé. E se não, voltarmos ao diálogo de Maria com Jesus. Diante das palavras de Maria, Jesus responde de forma inesperada:
"Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou"(João 2,4).
Maria entendeu aquelas palavras? Provavelmente não. Mas creu. Cria e sabia que Deus jamais permaneceria indiferente às necessidades de seus filhos. E sabia que agrada mais a Deus as orações que fazemos ao pedir pelos pobres e necessitados.
Posta à prova, a fé de Maria cresce e se faz contagiosa. Depois disto, diz aos serventes:
"Fazei o que ele vos disser"(João 2,5)
E fizeram... e a água se transformou em vinho!
Nossos irmãos protestantes têm razão em afirmar que o único Salvador é Jesus; que dele nos vem toda a graça; que nele depositamos toda a nossa confiança. Porém erram, sem dúvida, nossos mesmos irmãos quando daí concluem que se pode (e se deve) prescindir de Maria. Jesus estava presente em Caná, mas o Evangelho é muito claro em mostrar que Jesus nunca haveria feito o que fez se Maria não estivesse ali. Em quantos lugares faltam o vinho da alegria, do amor e da graça ! Quantas coisas estão ficando escassas hoje mesmo na igreja ! Por que ouvir o poder intercessor daquela que é Mãe de todos?
Observemos, enfim o que a passagem do Evangelho conclui dizendo: "Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia.. Manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele."(João 2,11).
Enquanto houver intercessores como Maria, Deus continuará preparando surpresas para nós... e seguirá crescendo a fé do povo nele.
SILENCIAR: O MODO MAIS EFICAZ DE INTERCEDER
Do mesmo modo que a Escritura nos apresenta a Eva (mãe dos viventes) junto a uma árvore, e a Maria ( a mãe dos que crêem) junto à árvore da cruz de seu filho. De pé, silenciosa: "Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe..." (João 19,25).
Maria, que havia sido a primeira redimida, vem ser agora a primeira co-redentora.
Por isso, diante deste insondável mistério da cruz, Maria sofre, silenciosa, ora e medita os insondáveis desígnios do Pai. Maria segue crendo sem compreender nada.
Nunca se viu um sermão mais eloqüente sobre a dor como o do silêncio de Maria diante da cruz do mais íntimo de seus filhos. Em meio aos grandes sofrimentos, escreve São Paulo, em uma ocasião: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja." (Colossenses 1,24)
Com muito mais razão se pode dizer das dores de nossa Mãe: "Me alegro em compartilhar plenamente os tormentos e a morte de meu Filho pelo nascimento da Igreja, seu novo corpo!"
Não nos cabe a menor dúvida de que o modo mais profundo e eficaz de interceder e de colaborar na obra da redenção universal é unindo nossa dor à de Cristo Jesus, nossos sofrimentos aos seus, nossa morte a sua. E fazê-lo no menor silêncio possível.
Sofrer em silêncio, suportar em silêncio, agüentar em silêncio, consentir em silêncio, esperar em silêncio, como Maria!
Quando a dor é demasiadamente grande para colocarmos em palavras, gritamos em silêncio. Quando você sofre e não compreende, abandone-se nas mãos de Deus, e sua oração irá se transformar na oração mais profunda e transformadora. E quando se vive esta mesma experiência de Maria, a solidariedade com os outros é a maior de todas as intercessões .


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

APROXIMA-SE A QUARESMA!





O que é a quaresma
A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender dos nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.
A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esfoço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.
Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, nos afastamos mais de Deus.
Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
40 dias
A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
A prática da Quaresma data do século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do oriente, a prática penitencial da Quaresma tem sido cada vez mais abrandada no ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ESPIRITUALIDADE CRISTÃ


Para definirmos a Espiritualidade Cristã temos que primeiramente saber a origem da palavra espiritualidade e seu uso em nossos dias. Espiritualidade diz-se da ação do Espírito Santo na Vida humana e no Cosmos. 

É o Espírito que pairava sobre as águas como está narrado no início do Gênesis, na Bíblia, e que continua agindo em vários momentos da história da Salvação. É o Espírito que está presente no batismo e no início da missão de Jesus como vemos escrito nos relatos dos Evangelhos. É o Espírito Santo de Deus que Jesus dá aos seus discípulos após a sua ressurreição conforme a narrativa final do Evangelho de Mateus e na experiência de Pentecostes que a comunidade faz, segundo o escritor dos Atos dos Apóstolos.

Espiritualidade tem a ver com o Espírito de Deus revelado em Jesus e dado a nós como “paráklitos”, defensor, animador, luz, alguém que constantemente está cuidando de nós para que sejamos melhores a cada dia e vivamos conforme a vontade de Deus. Espiritualidade é tudo o que está em nosso coração e nos anima para a defesa da vida, para o fortalecimento da esperança. Ela é como a água da chuva que encharca a terra seca fazendo brotar a grama, as pastagens. É como a água que se joga no jardim pela manhã, vemos seu efeito na beleza das plantas e no encanto das flores que desabrocham.

A Espiritualidade cristã é algo que brota do coração do Senhor. Olhando para Jesus vemos que o Espírito de Deus o impelia constantemente para o encontro com os outros – pobres, doentes, crianças, mulheres, excluídos – e também para o encontro com o Pai na oração silenciosa em que acolhia e ouvia a vontade do Pai para a sua missão. Para nós, seguidores de Jesus, a dimensão da Espiritualidade será sempre mais descobrir a vontade de Deus em nossas vidas. Devemos estar sempre com o olhar fixo em Jesus Cristo e fazer o que Ele fez, viver o que Ele viveu, assumir o projeto que Ele assumiu. No caso nosso, de cristãos que somos, não dá para viver uma espiritualidade que não seja a Espiritualidade vivida por Jesus.

Hoje em dia, entre os grupos e pastorais da nossa Igreja, costuma-se falar em “momentos de Espiritualidade”. É uma definição meio capenga. Não se pode falar em “momentos”, como se a vida fosse uma experiência de “momentos". Assim como necessitamos de alimento, de cuidado, de carinho, de bem-querer, de água para a sobrevivência, também precisamos descobrir a ação duradoura do Espírito do Senhor em nossas vidas. Trata-se de fazer de toda a vida um grande momento de encontro com o nosso Deus que se revela como Pai, Filho e Espírito Santo.

Conversando sobre o assunto

1.O que é mesmo Espiritualidade Cristã?

2.Como vivemos a dimensão da Espiritualidade em nossos grupos  e nos vários grupos pastorais e movimentos da Igreja? Você percebe alguma diferença entre um grupo e outro no modo de viver a Espiritualidade?

3.Que tal começar uma experiência espiritual acompanhada por alguém? Algo mais ou menos assim: um tempo de oração diária, com um texto bíblico ou tema, um bate-papo/partilha de vez em quando e um tempo maior de oração num fim de semana ou mesmo numa manhã ou tarde.

Eliomar Ribeiro, padre jesuíta, Mestre em Teologia Pastoral, assessor da PJ, pároco na periferia de Fortaleza-CE. eliomarsj@hotmail.com