segunda-feira, 19 de março de 2012

SÃO JOSÉ, PADROEIRO DA IGREJA


SÃO JOSÉ É O PATRONO DA IGREJA

 
Prof. Felipe Aquino 

O Papa Pio IX, no dia 8 de dezembro de 1870, declarou o glorioso São José, Padroeiro da Igreja Católica. Este mesmo Papa, em 08/12/1854, já tinha proclamado solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.Através de Decreto da Congregação dos Sagrados Ritos, o Papa atendeu à solicitação do episcopado do mundo todo, que estava então reunido no Concílio Vaticano I ( 08/12/1869 a 20/10/1870), os quais rogaram ao Santo Padre que se dignasse constituir São José Padroeiro da Igreja Católica.
Assim se expressou a Sagrada Congregação dos Ritos:“Assim como Deus constituira o antigo José, filho do antigo patriarca Jacó, para presidir em toda a terra do Egito, a fim de conservar o trigo para os povos; assim, chegada a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Unigênito Filho para redenção do mundo, escolheu outro José, de quem o primeiro era figura; constituiu-o Senhor e Príncipe de sua casa e de sua possessão, e elegeu-o custódio de seus principais tesouros.
José teve, de fato, por esposa a Imaculada Virgem Maria, da qual por virtude do Espírito Santo, nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, que, junto aos homens, se dignouser julgado filho de José, e lhe foi submisso. E José, não só viu Aquele que tantos reis e profetas desejaram ver, mas conversou com Ele, estreitou-O ao peito com paternalafeto, beijou-O; e, além disso, com extremoso cuidado, alimentou Aquele que devia ser nutrição espiritual e alimento de vida eterna para o povo fiel.
Por esta excelsa dignidade, concedida por Deus a seu fidelíssimo Servo, a Igreja, após a Virgem Santíssima, sua Esposa, teve sempre em grande honra e cumulou de louvores o Beatíssimo José, e nas angústias lhe implorou a intercessão. Ora, estando a Igreja, nestes tristíssimos tempos, perseguida em toda parte por inimigos e opressa por tão graves calamidades, a ponto de julgarem os ímpios que as portas do abismo prevaleceram contra Ela, os Bispos de todo o mundo católico, em seu nome e no dos fiéis confiados a seus cuidados, rogaram ao Sumo Pontífice que se dignasse constituir São José Padroeiro da Igreja Católica.
Tendo pois eles, no Sagrado Concílio Ecumênico Vaticano I, renovado com maior insistência os mesmos pedidos e desejos, o Santo Padre Pio IX, comovido com a presente e lutuosa condição dos tempos, querendo de modo especial colocar-se a si mesmo e aos fiéis sob o poderosíssimo Patrocínio do Santo Patriarca José e satisfazer os desejos dos Bispos, declarou-o solenemente Padroeiro da Igreja Católica.
Elevou a sua festa, que caí a 19 de março a rito duplo de primeira classe. E, além disso ordenou que esta declaração, feita com o presente decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, fosse publicado no dia consagrado à Imaculada Virgem Mãe de Deus, Esposa do castíssimo José”.
Eram, como sempre, tempos difíceis para a Igreja. O Papa convocara o Concílio Vaticano I para enfrentar o brado da Revolução Francesa (1789) contra a fé, no endeusamento da razão e do nacionalismo. O século XIX começou marcado pelo materialismo racionalista e pelo ateísmo, fora da Igreja; dentro dela as tendências conciliaristas e de separatismo, que enfraqueciam a autoridade do Papa e a unidade da Igreja. Mais uma vez a Barca de Pedro era ameaçada pelas ondas do século. Então a Igreja recomendou-se ao “Pai” terreno do Senhor. Aquele que cuidara tão bem da Cabeça da Igreja, ainda Menino, cuidaria também de todo o seu Corpo Místico.Trinta anos depois, o Papa Leão XIII, no dia 15/8/1899, assinava a Encíclica “Quanquam Pluries” sobre São José, nos tempos difíceis da virada do século.
Ouçamos o Papa:“Nos tempos calamitosos, especialmente quando o poder das trevas parece tudo usar em prejuízo da cristandade, a Igreja costuma sempre invocar súplice a Deus, autor e vingador seu, com maior fervor e perseverança, interpondo também a mediação do Santo, em cujo patrocínio mais confia para encontrar socorro, entre os quais se acha em primeiro lugar a Augusta Virgem Mãe de Deus”.
“Ora, bem sabeis Veneráveis Irmãos que os tempos presentes não são menosdesastrosos do que tantos outros, e tristíssimos, atravessados pela cristandade. Defato, vemos perecer em muitos o princípio de todas as virtudes cristãs, de fé, extinguir-se a caridade, depravar-se nas idéias e costumes a nova geração, perfeitamente hostilizar-se por toda a parte a Igreja de Jesus Cristo, atacar-seatrozmente o Pontificado, e com audácia cada vez mais imprudente arrancarem – se os próprios fundamentos da religião”.
“Nós propomos… para tornar Deus mais favorável às nossas preces e para que Ele, recebendo as súplicas de mais intercessores, dê mais pronto e amplo socorro à sua Igreja, julgamos sumamente conveniente que o povo cristão se habitue a invocar com singular devoção e confiança, juntamente com a Virgem Mãe de Deus, o seu castíssimo esposo São José: temos motivos particulares para crer que seja isto aceito e agradável à própria Virgem. E, a respeito desse assunto, doqual pela primeira vez tratamos em público, bem conhecemos que a piedade do povo cristão não só é favorável, mas tem progredido também por iniciativa própria; pois vemos já gradativamente promovido e estendido o culto de São José por zelo dos Romanos Pontífices, nas épocas anteriores, universalmente aumentado e com indubitável incremento nestes últimos tempos, em especial depois que Pio IX, nosso antecessor de feliz memória, declarou às súplicas de muitos bispos, Padroeiro da Igreja Católica o Santíssimo Patriarca. Não obstante, por ser muito necessário queseu culto lance raízes nas instituições católicas e nos costumes, queremos que o povo cristão receba, antes de tudo, de nossa voz e autoridade novo estímulo”.
Vemos assim que, nas horas mais difíceis de sua caminhada a Igreja sempre recorre à Sua Mãe Santíssima, que nunca a desamparou; e, em seguida ao seu esposo castíssimo São José.E Leão XIII explica as razões da grandeza de São José por “ser ele esposo de Maria e pai adotivo de Jesus”.“Daí derivou toda a sua grandeza, graça, santidade e glória. É certo que a dignidade de Mãe de Deus se eleva tão alto que nada existe de mais sublime. Mas, porque entre a bem-aventurada Virgem e José estreitou-se o laço conjugal, não é possível duvidar que da altíssima dignidade, pela qual Mãe de Deus é imensamente superior a todas as criaturas, ele se aproximoumais que qualquer outro. Pois o conúbio é a máxima sociedade e amizade, à qual se une a comunhão dos bens. Por essa razão, se Deus deu à Virgem, como esposo, José, Ele o deu não só para companheiro de vida, testemunha da virgindade e tutor da honestidade, mas também para que participasse, por meio do vínculo conjugal, de sua excelsa grandeza”.
“Assim ele sobressai entre todos pela augusta dignidade, porque foi, por divina disposição, Custódio, e aos olhos dos homens, pai do Filho de Deus. Donde se seguia que o Verbo de Deus modestamente se sujeitava a José, obedecia-lhe, prestava-lhe honra e reverências devidas pelos filhos a seus pais”.
E o Papa destaca a missão que Deus confiou a José:“Ora, a casa divina que José, quase com pátrio poder, governava, era o berço da Igreja nascente.A Virgem Santíssima, por ser Mãe de Jesus Cristo, e também Mãe de todos os cristãos, por Elagerados em meio às atrocíssimas penas do Redentor no Calvário; como Jesus Cristo é, de certo modo o primogênito dos cristãos, seus irmãos por adoção e redenção.
Daí resulta ser confiada, de modo especial, ao Beatíssimo Patriarca a multidão dos cristãos, da qual se compõe a Igreja, isto é, a inúmera família espalhada por todo o mundo e sobre o qual tem, como esposo da Virgem e pai adotivo de Jesus Cristo, uma autoridade paterna. É pois conveniente e sumamente digno para o bem-aventurado José que, assim como costumava proteger santamente em todo o evento a família de Nazaré, agora assista e defenda, com seu celeste patrocínio, a Igreja de Cristo”.O Papa Leão XIII fez questão de compor uma Oração a São José pela Santa Igreja, a seguir transcrita.
ORAÇÃO A SÃO JOSÉ
“A vós, São José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter implorado o auxílio de Vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos o vosso patrocínio.Por esse laço sagrado de caridade, que os uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus, pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a herança que Jesus conquistou com seu sangue,e nos socorrais em nossas necessidades com o vosso auxílio e poder.Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo.Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício.Assisti-nos do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; assim como outrora salvastes da morte a vida do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade.Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo, e sustentados com vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança. Assim seja.
Em 25/07/1920, no 50º aniversário da proclamação do Patriarca São José como Padroeiro da Igreja Universal, por Pio IX, em 1870, o Papa Bento XV ratificou a necessidade da devoção a São José. Assim se expressou Bento XV:
“Se considerarmos as hodiernas calamidades que afligem o gênero humano, torna-se mais evidente ainda a oportunidade de intensificar o tal culto [ a São José] e difundí-lo ainda mais entre o povo cristão”.“Nós, com grande solicitude, lhespropomos de modo particular São José, que o sigam como guia especial e o honrem como celeste Padroeiro”.“Assim florescendo a devoção dos fiéis a São José, aumentará também, como necessária consequência, o culto à Sagrada Família de Nazaré, da qual foi o augusto Chefe, jorrando estas duas devoções espontaneamente uma da outra. Por São José vamos diretamente a Maria, e por Maria à fonte de toda a santidade, Jesus Cristo, que consagrou as virtudes domésticas com a sua obediência a São José e Maria”.“Nós portanto, cheios de confiança no patrocínio dAquele, a cuja providente vigilância Deus se comprazeu em confiar a custódia do seu Unigênito Encarnado e da Virgem Santíssima, vivamente exortamos a todos os Bispos do orbe católico, para que, em tempos tão tormentosospara a Igreja, induzam os fiéis a implorar com maior empenho, o poderoso auxílio de São José. E sendo várias as formas aprovadas por esta Sé Apostólica para venerar o Santo Patriarca, especialmente em todas as quartas-feiras do ano e do mês inteiro que lhe é consagrado [ março], queremos que, à instância de cada Bispo, todas estas devoções sejam praticadas em toda diocese, na medida do possível.Mas de modo particular, por ser Ele merecidamente considerado como omais eficaz Protetor dos moribundos, tendo expirado com a assistência de Jesus e de Maria, os Pastores terão o cuidado de inculcar e favorecer, com todo o prestígio de sua autoridade, as Pias Associações instituídas para rogar a São José em favor dos moribundos, como a da “Boa Morte”, do “Trânsito de São José pelos agonizantes de cada dia”.”
Vemos assim como a Igreja tem em alta conta a proteção intercessora de São José.Hoje a Igreja vive os mesmos tempos difíceis que levaram Pio IX, Leão XIII e Bento XV a invocarem São José com tanta confiança e necessidade. Mais do que antes a fé está ameaçada pelo racionalismo, relativismo moral e religioso, permissividade sexual, proliferação das seitas, falsas religiões – especialmente as de origem oriental e a Nova Era . Novamente é preciso invocar o Patrono da Igreja Universal.
Em uma aparição a Santa Margarida de Cortona, disse Jesus:“Filha, se desejas fazer-me algo agradável, rogo-te não deixeis passar um dia sem render algum tributo de louvor e de bênção ao meu Pai adotivo São José, porque me é caríssimo”.Santo Afonso de Ligório garantia que todo dom ou privilégio que Deus concedeu a outro Santo também o concedeu a São José.São Francisco de Sales diz que “São José ultrapassou, na pureza, os Anjos da mais alta hierarquia”.
São Jerônimo diz que :“José mereceu o nome de “Justo”, porque possuia de modo perfeito todas as virtudes”.De fato, podemos concluir que, se José foi escolhido para Esposo de Maria, a mais santa de todas as mulheres, é porque ele era o mais santo de todos os homens. Se houvesse alguém mais santo que José, certamente seria este escolhido por Jesus para Esposo de Sua Mãe Maria.
É eloqüente o testemunho de Santa Teresa de Ávila, doutora da Igreja, devotíssima de São José. No “Livro da Vida”, sua autobiografia, ela escreveu :“Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e muito me encomendei a ele. Claramente vi que dessa necessidade, como de outras maiores referentes à honra e à perda da alma, esse pai e senhor meu salvou-me com maior lucro do que eu lhe sabia pedir. Não me recordo de lhe haver, até agora, suplicado graça que tenha deixado de obter. Coisa admirável são os grandes favores que Deus me tem feito por intermédio desse bem-aventurado santo, e os perigos de que me tem livrado, tanto do corpo como da alma. A outros santos parece o Senhor ter dado graça para socorrer numa determinada necessidade. Ao glorioso São José tenho experiência de que socorre
em todas. O Senhor quer dar a entender com isso como lhe foi submisso na terra, onde São José, como pai adotivo, o podia mandar, assim no céu atende a todos os seus pedidos. Por experiência, o mesmo viram outras pessoas a quem eu aconselhava encomendar-se a ele. A todos quisera persuadir que fossem devotos desse glorioso santo, pela experiência que tenho de quantos bens alcança de Deus…De alguns anos para cá, no dia de sua festa, sempre lhe peço algum favor especial. Nunca deixei de ser atendida”.
Este testemunho de uma grande Santa Doutora da Igreja dispensa comentários, e precisa ser lido e relido como muita atenção. Próximo de Jesus e de Maria, São José é Estrela de primeira grandeza no Céu e intercede pela Igreja sem cessar, assim como, na terra, velava sem se descuidar, do Filho de Deus a ele confiado. Nos recomendemos todos a ele, todos os dias.

domingo, 18 de março de 2012

TEMPO DE GRAÇA PARA SUA FAMÍLIA! PARTICIPE!


REFLEXÃO QUARESMAL


Perseverança até quando?

Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo em Uberaba (MG)
O ser humano é realmente frágil, diante das agruras da vida. Somos capazes de grandes heroísmos. Mas perante a presença do mal, das oposições contínuas de gente mal intencionada, sentimos a falta de coragem. A tentação da fuga, pura e simples, é uma alternativa aliciadora. “Todos os discípulos, deixando-o, fugiram” (Mt 26, 56). Nisso somos parecidos com os animais que, diante do perigo, por instinto de conservação, fogem rapidamente. Os homens, por educação ou por graça divina (martírio), tem a capacidade de resiliência. Essa capacidade nos faz esperar que os tempos mudem, e tudo pode tomar um rumo novo. As pessoas, - homens ou mulheres, e até jovens - que tem perseverança e firmeza de conduta, tornam-se arrimo para outros  mais frágeis. Os que tem personalidade, e não se deixam desviar dos seus intentos, são líderes e vencedores. Tais pessoas se tornam heróis, pelo fato de abrirem caminho aos pusilânimes. Mas a perseverança é virtude proposta a todos, não só aos heróis. Este desafio nos é aberto em dois sentidos.
Antes de tudo, somos chamados ao heroísmo da fé. A tentação do desânimo, de abandonarmos a fé diante de outras propostas mais tentadoras, de alcançarmos a solução dos problemas pela via rápida dos milagres fáceis, nos pode fazer balançar. “Maldito seja aquele que vos anunciar um evangelho diferente daquele que eu anunciei” (Gal 1, 8). A Igreja possui a doutrina de Jesus (imagem do Pai). Nesta doutrina seremos perseverantes e seguiremos o que ensinavam os Apóstolos: “sede firmes na fé”. Entre nós católicos há muitos que se deixam seduzir com facilidade, e abandonam a fé do seu batismo, para aderirem a soluções menos complicadas. Outro chamado, feito a todos, é de sermos perseverantes na prática do bem. Trabalhar gratuitamente em benefício dos outros, pode cansar. As ingratidões, a falta de compromisso, pode nos levar ao desânimo, e a “jogar tudo para cima”. É mais fácil ter vida mansa e assistir tudo de camarote. Mas a Escritura nos alerta: “Quem for perseverante até o fim, este será salvo” (Mt 10, 22).
Dom Aloísio Roque Oppermann 

sexta-feira, 16 de março de 2012

UMA REFLEXÃO SOBRE A QUARESMA


Quaresma, Chamado à Conversão


Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo de Amparo (SP)
A Igreja Católica está no período de quaresma. As quaresmeiras floridas de roxo aqui em nossa região, nos recordam a quaresma que nada tem a ver com as superstições a seu respeito, as quais ainda perduram. E a quarta feira de cinzas, que abre a quaresma não existe só como purificação das festanças e abusos carnavalescos.
Quaresma; quarenta dias que precedem a Páscoa: vitória de Jesus o Filho de Deus, sobre a morte. Ele passou quarenta dias no deserto, orando, jejuando, enfrentando as forças misteriosas do mal e vencendo-as, antes de iniciar sua missão (Mt 4,1-11). A quaresma recorda este período convidando a imitar Jesus na oração, no jejum, na penitência que ajudam a reorganizar nossa vida interior, reorientando-a para Deus, num processo que a Biblia chama de conversão.
O termo conversão, pertence à tradição religiosa do judaísmo e cristianismo. Converter-se é afastar-se daquilo que toma o lugar de Deus em nosso coração (ídolos). É condição indispensável para entrar no dinamismo do Reino de Deus, é mudança de mentalidade e de conduta, é sair do pecado que nos torna inimigos de Deus.
O conceito de pecado é rejeitado pela sociedade hodierna, porém é realidade que aparece em todas as religiões e culturas com este ou outro nome. A existência do pecado é fruto de uma experiência pessoal e histórica do homem, sinalizado pelo sentimento de culpa que é um dado constante da psicologia humana.
As ideologias racionalistas e atéias da atualidade vinculam o pecado ou culpa às exigências da sociedade ou ao peso das tradições que condicionam a vida do indivíduo. A psicologia pretende dar uma explicação cabal para o pecado, mas não consegue. O mistério da iniqüidade (cf. 2Tas 2,7), presente na realidade ultrapassa qualquer explicação científica. É inútil cantar: “não existe pecado do lado debaixo do Equador...”, pois ele está aí com seu rastro de violência, ódio, divisão, injustiça, causando grande infelicidade e destruição.
O pecado nos ensina a Bíblia, é uma realidade, não podemos compreendê-lo totalmente. O que sabemos é que, com o termo pecado se quer designar um engano, uma atitude de quem erra o alvo, uma revolta ou desobediência a Deus que nos ama e que, pelos seus mandamentos nos ensina o caminho da felicidade. Assim o pecado como podemos auferir é amar tanto a si mesmo até o desprezo de Deus. E isto gera desequilíbrio interior, infelicidade. É uma decisão consciente de dizer não à voz de Deus que nos instrui desde o íntimo de nossa consciência. È deixar de fazer o bem acreditando que a maldade compensa.
Por tudo isso, podemos perceber o quanto de orgulho, vaidade e egoísmo, envolvem as ações pecaminosas. Basta pensar na “banalização da vida” presente em nossa cultura, que se caracteriza por instrumentalizá-la. Separa-se a vida dos vínculos transcendentes que garantem seu valor e sentido. A vida perde seu valor absoluto diante do dinheiro, da fama e da busca do poder.
A Campanha da Fraternidade deste ano, chamando a atenção para a questão da saúde pública, nos convida a contemplar a face sofredora de Cristo nos irmãos doentes muitas vezes condenados à morte por falta de assistência. Deus quer uma cultura da vida e o homem no pecado, uma cultura de morte.
Conversão portanto, é a palavra chave do tempo da quaresma. É possível libertar-se da escravidão do pecado.  Jesus é nosso libertador, seguindo-o seremos livres. Em Jesus, Deus nos chama com amor para nos curar com sua misericórdia, das feridas provocadas em nós pelos pecados. Deus sabe que desde o nascimento nos sentimos incompletos, inseguros e desamparados.
Em meio á angústia existencial procuramos preencher nosso vazio com tantas coisas que ao invés de nos dar segurança e tranqüilidade nos escravizam e oprimem. Em Jesus Deus se mostra como valor absoluto, capaz de realizar-nos plenamente se correspondermos a seu amor. E amar a Deus é praticar seus mandamentos (1Jo 2,3-6).
Que a cor roxa da penitência quaresmal nos recorde o apelo do Senhor Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho”(Mc 1,15).

Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo de Amparo (SP)

domingo, 11 de março de 2012

FORMAÇÃO JOVEM


“Dar razões da própria esperança” (1Pd 3, 15)

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Queridos Jovens,
É necessário percorrer um caminho de preparação espiritual e apostólica se realmente desejamos que os frutos da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 possam amadurecer e transformar as nossas vidas. Devemos trilhar num itinerário de oração e de trabalho para que as palavras do Santo Padre, o Papa, e o encontro renovador em Cristo e com os irmãos do mundo inteiro possam dar frutos de vida eterna. Se não estivermos atentos, poderemos facilmente fazer parte da multidão que gritava “Hosana” no Domingo de Ramos e “crucifica-o” na Sexta-Feira Santa.
Desejo peregrinar com vocês e, para isso, gostaria de propor uma breve reflexão sobre o tema da primeira Jornada Mundial da Juventude: "Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês" (1Pd 3, 15).
Ele foi escolhido pelo Beato João Paulo II em 1986. Quando no dia 23 de março, no Domingo de Ramos, as dioceses do mundo inteiro realizaram a I Jornada Mundial da Juventude.
Lendo o convite de São Pedro a dar razões de nossa fé, a primeira coisa em que pensamos é como defender nossa fé contra aqueles que a denigrem. Pensamos em uma apologética da fé, que consiste apenas em embates e discussões para demonstrar a verdade. Este tipo de missão é necessário e importante, sem dúvida, mas deve ser executada por amor às pessoas a quem Deus ama.
Porém, muitas vezes nos esquecemos de que a primeira e fundamental missão e apologética que podemos e devemos realizar é a do testemunho de nossa fé através do exemplo. Um jovem de verdadeira identidade católica é aquele que transmite nas pequenas tarefas do dia a dia o sopro da graça Divina. Um jovem católico é alegre e entusiasta, é capaz de escutar a todos e falar com vivacidade de Cristo. É aquele que em casa apoia a família, e na escola se esforça por estudar, respeita os seus professores e é cordial com todos os funcionários da Escola em que estuda. E se o adolescente pratica algum esporte, é sinal de caridade e harmonia. Com a namorada ou o namorado coloca todos os meios necessários para viver com santidade esta etapa importante da vida. É também aquele que consegue ver com os olhos da fé os problemas sociais, familiares, psicológicos e dificuldades várias que passa na vida.
Não deixemos nos enganar pelo inimigo, porque o demônio nos ronda e nos tenta. Apologética deve supor a vivência pessoal da fé, senão fica completamente vazia. Verdade sem caridade transforma-se numa mentira, pois não respeita o outro enquanto criatura amada e querida por Deus. Cristo nos deu diversas lições sobre isto. É completamente evangélica a frase: “Rejeitar o pecado, mas não o pecador”. Querendo arrancar a erva daninha, muitas vezes poderemos arrancar a boa semente.
A caridade sem verdade é falsa. Pois só na verdade existe a real caridade em sentido evangélico e cristão. Por isso, é importante sair da infantilidade da fé. Isso ocorre quando cometemos a injustiça de querer enfrentar os questionamentos do mundo tendo a formação infantil. Daí a importância do Ano da Fé pedido pelo Papa Bento XVI.
É triste perceber que existem excelentes profissionais católicos, com um alto padrão de formação e especialização que exige seu campo de atuação, mas que possuem um conteúdo catequético raquítico, desnutrido. É uma tremenda injustiça com a Igreja e com Cristo.
Então, o que fazer? Não podemos ficar com os braços cruzados. É necessário levar a boa nova de Cristo a todas as criaturas. E não há melhor modo de fazer isto do que através de gestos de amor, entrega, trabalho e doação.
É necessária a inteligência da fé. A Igreja possui dois mil anos de história e tradição. Carrega um patrimônio humanístico, cultural, filosófico e teológico únicos. Temos o Catecismo da Igreja Católica e o Compêndio do Catecismo. Temos os Santos Padres da Igreja. As encíclicas papais, os documentos dos concílios. É necessário saber dar razões de nossa fé, mas para isto é necessário estudá-la e aprofundá-la sempre e cada vez mais.
Nossa fé não é puro sentimento ou apenas a invenção de um grupo de homens piedosos. Existe a racionalidade da fé. E no Catolicismo esta inteligência da fé possui uma densidade tal, que seria um pecado de omissão não conhecer e estudar.
Peguemos as primeiras palavras do evangelho de São João. O que encontramos lá? “No princípio era o Verbo” (Jo 1,1). Uma das grandes questões que movia a mente dos filósofos gregos era a que versava sobre o princípio e fundamento de todas as coisas. Por que as coisas existem? Qual é o fundamento delas? João apresenta Cristo como o Verbo, o fundamento de todas as coisas que os gregos durantes séculos buscavam. Cristo é o verdadeiro logos, a razão. No cristianismo, Cristo é a razão encarnada.
São palavras belíssimas do evangelista, que devem encher nosso coração de alegria e entusiasmo por nossa fé. Ela não é irracional ou puro sentimento. Ela é sentido e razão de ser de todas as coisas. Não carreguemos em nossas almas algum sentimento de inferioridade. Não se deixem seduzir por intelectualismos vazios. Conheçam a fé que professam.
Preparem-se bem para a Jornada Rio 2013 através de uma vida verdadeiramente cristã, que seja sal e luz e possa atrair a todos pela beleza de seus gestos e palavras. Preparem-se conhecendo mais profundamente a doutrina e a tradição da Igreja. Sempre há um motivo e uma razão para a Igreja defender certa posição. Antes de criticá-la, busque conhecer as razões. Devemos viver nossa fé com todo nosso ser, com nossa alma, com nossa inteligência e com o nosso coração.  A Igreja ofereceu aos jovens o catecismo adaptado à sua linguagem e, em Madri, entregou a todos os inscritos para a Jornada um exemplar em sua própria língua.
Dar razões de nossa fé é, sobretudo, viver integralmente o cristianismo. Muito me alegram os inúmeros grupos de jovens que utilizam as redes para a formação cristã. Parabéns pela iniciativa! E felicito todos os jovens que estão levando a sério a preparação para a Jornada Mundial, através de encontros de oração, reflexão, partilha e missão. Motivo todos a continuarem por esse caminho, que só tem a enriquecer a vida de vocês.
Que Cristo, o Logos encarnado, nos ilumine para que possamos no dia a dia de nossa vida dar razões de nossa esperança.

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

QUARESMA, TEMPO FORTE DE FÉ E RECONCILIAÇÃO



   
quaresma
A Quaresma é um tempo litúrgico muito especial na Igreja de Cristo.

Ela nos prepara para a celebração da Páscoa, a principal festa litúrgica cristã, pois nela se celebra a ressurreição de Cristo.

Missionário Redentorista, padre Ferdinando Mancílio, explica que deste modo se tem o prolongamento quaresmal que é o Tempo Pascal.

“Historicamente o Tempo da Quaresma intervém três elementos fundamentais, a preparação dos catecúmenos para o batismo na vigília pascal, a reconciliação dos penitentes públicos para viverem com a Comunidade e a preparação de toda a Comunidade para a grande festa da Páscoa”, afirmou.

A Quaresma carrega a conversão tão necessária para todos nós. A certeza da vida em Cristo, Ele ressuscitado dos mortos é a grande força para todos os que nele creem.

“Por isso, a Quaresma é liturgicamente batismal. Deste mesmo sentido decorrem a penitência e os jejuns, ou seja, voltados para a conversão pessoal e comunitária”, acrescentou padre Ferdinando.

De acordo com o Missionário Redentorista, a reforma conciliar – SC 109 – 110 nos faz entender que a Quaresma é: um tempo de renovação, de retiro, de conversão, tempo forte de fé na vida da Igreja, na vida dos cristãos e de todas as Comunidades eclesiais, momento em que voltamos nossa atenção ao mistério pascal, à passagem do mundo para o Pai, reunimo-nos nos grupos ou em Comunidade para meditar a Palavra e tomar iniciativas favoráveis à vida.

“Esse tempo favorável da graça divina nos desperta para revisar nossa vida e nossos propósitos libertadores, como também nossa ação pastoral. Quaresma é tempo propício para mudar a vida da gente”, concluiu.