sábado, 28 de julho de 2012

A ESPIRITUALIDADE DO CONFLITO



Antônio Mesquita Galvão
Doutor em Teologia Moral

As pessoas, em geral, têm dificuldade de compreender o sentido da palavra “espiritualidade”. E é justamente por causa desse equívoco que não conseguem desenvolver adequadamente um cristianismo eficaz, de acordo com seu estado de vida. Muitos a confundem com “espiritismo” ou “espiritualismo” e apontam para algum modo de vida espiritual, sem saber conceituar nem tampouco ava-liar como se desenvolve esse tipo de vivência. Por ser a espiritualidade uma forma muito rica de relação com Deus, ela aponta para um estilo de vida. De vida cristã.
O grande desafio da espiritualidade cristã é compatibilizar uma vida voltada para os apelos do Espírito na ambigüidade da vida material a que todos estão sujeitos. Não é possível a ninguém, alienar-se de sua vida material, social, pro-fissional, familiar, política, etc. É justamente nessas circunstâncias de nossa existência que devemos nos encontrar com Deus, sem fugir do mundo, mas relacionando-nos com o Infinito conforme nosso estado de vida. Reside aí o de-safio: viver uma vida cristã, espiritualizada e voltada para o alto, sem furtar-se à vida material e à dimensão sócio-fraterna inerente a esse tipo de vida.
É fundamental que se insista na necessidade que os cristãos têm, cada vez mais, de descobrirem eles próprios os caminhos de sua espiritualidade, de a-cordo com a forma de vida abraçada por cada um, sem que um queira viver em sua vida o tipo de espiritualidade do outro, ou simplesmente se omitindo. Deus quer que eu me envolva com ele, sem, no entanto, fechar os olhos à injustiça que sofre o irmão, o vizinho, o companheiro de caminhada. Essa opressão é uma tônica gritante fora do âmbito das grandes capitais do Sul-Sudeste. Em tudo ocorrem conflitos e desacertos. Na psicologia, vemos conflito, segundo as teorias behavioristas, como um “estado provocado pela coexistência de dois es-tímulos que disparam reações mutuamente excludentes”. Simplificando, há quem defina, igualmente como “profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes”. A vida humana, e a existência dos cristãos não está imune, ocor-re no meio dos conflitos.
No meio das comunidades, especialmente no interior do país, ocorre a grilagem e o choque com os posseiros, contrastando com o coronelismo, a extração irre-gular de madeira e minérios, a falta de demarcação de terras indígenas, amea-ças ao meio-ambiente, doenças e endemias tropicais, subemprego, violência (e não-raro mortes) contra sindicalistas, líderes comunitários e ministros da Igre-ja. Isto sem falar nos “reflorestamentos” de árvores que só produzem celulose, plantações de maconha, etc. A isto se soma a falta de saneamento básico, um sistema educacional deficiente e famílias que se desestruturam por problemas sociais, econômicos e de migração compulsória. Há, por causa desses conflitos, uma perda de fé e de referenciais humanos.
Tudo deve ter início, a partir da iluminação da fé, pela Palavra de Deus, numa formação bíblica e doutrinária adequada, assim como a descoberta de uma ní-tida consciência crítica, não jungida a outros modelos de vida cristã, mas ade-quados à vida concreta de cada pessoa, conforme sua missão no meio do mun-do. Sendo a espiritualidade a forma como nos relacionamos com Deus, é impor-tante que deixemos de lado certo tipo de cristianismo desvinculado com a vida e o mundo, demasiadamente angelista, sem o compromisso com as transfor-mações que o evangelho de Jesus não cansa de nos exortar.
Toda a religião vivida de modo alienado torna-se alienante, para quem a pratica e para tantos quantos interajam com pessoas que assim atuam. Além disto, a vivência de uma espiritualidade incoerente é capaz de, pelo negativo do teste-munho, desviar muitas pessoas do caminho reto, da amizade com Deus, da Igreja e do serviço aos irmãos. Os profetas davam alento ao povo sofredor por causa da coragem de seu testemunho e de suas denúncias.
Para quem conhece o Brasil fica a constatação da existência de um conflito, entre o ser-cristão de muitos e a figura paulina do “espírito do mundo”. O con-flito se instala, muitas vezes, dentro das Igrejas, com motivação político-ideológica, social e por causa da busca da busca de poder, intentada por de-terminados grupos. Para quem, como eu, reside no Sul do país, onde se vive sob o foco de uma religião de corte germânico, burocrática, sacramentalista, demasiadamente hierárquica, que forma uma “Igreja sentada”, estática, pouco missionária e, geralmente acomodada, muitas facetas do conflito passam des-percebidas. No Norte e Nordeste do Brasil viver a fé é estar no meio do conflito, pois os obstáculos, como a natureza hostil, as pressões políticas, o descaso ofi-cial e as ameaças dos poderes sociais criam nas pessoas, especialmente po-dres, humildes e sem voz, faz emergir a necessidade de um profetismo militan-te. A convivência com os negros e os índios, cada um segregados à sua manei-ra, a sobrevivência sob o tacão da opressão, seja ela representada pelo patrão, pelo senhor dos engenhos ou do latifúndio, impõe a cada um, certas necessi-dades de viver a fé, de relacionar-se com Deus, organizando-se, fomentando um espírito crítico, sem apelar para a violência e sem a tentação de quebrar os paradigmas da paz e do perdão. A própria Justiça, que em tese deveria ser ce-ga, dispensa a cada grupo um quinhão proporcional a sua representatividade social. Querendo devolver olho-por-olho as injustiças sofridas, muitos abando-nam a fé, por não saberem desenvolver uma “espiritualidade no conflito”. Em alguns lugares do Brasil, os crentes vivem uma espiritualidade cômoda, sem riscos; em outros, têm que desenvolvê-la no meio do conflito.
Só uma espiritualidade discernida e orientada pela Palavra é capaz de nortear os rumos de quem insiste em ser cristão e viver sua fé no meio do conflito que, por exemplo, nas regiões mais ínvias, é permanente.



sábado, 21 de julho de 2012

O PERDÃO


FORMAÇÕES

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O perdão

Perdoar passa pelo coração e depois pela inteligência

O perdão começa sempre em nosso coração. Passa depois pela nossa inteligência. É uma decisão! Depois de concebido no coração e gestado no pensamento, ele [perdão] ganha vida por uma decisão irreversível e explícita. Enquanto não perdoamos, perpetuamos a falsa ideia de que a vingança e o ódio podem ser remédios para curar nossa dor, a vingança parece ser mais justa do que o perdão. Mas é só na hora. A longo prazo suas consequências serão terríveis e cruéis.

O perdão afeta o presente e o futuro, mas não pode mexer no passado. Não adianta nada querer sonhar com o passado melhor ou diferente. O passado foi o que foi. Não há o que fazer para mudá-lo. Podemos e devemos assimilá-lo e aprender o que ele tem a nos ensinar. Mais do que isso é impossível.

A esperança por um passado melhor é uma ilusão do encardido [demônio]. Ele é o grande especialista em passado. Jesus, ao contrário, nunca fez nenhuma pergunta sobre o passado de nunhuma pessoa. Ele nunca fez uma regressão ao passado com ninguém. Nem mesmo com aqueles que tinham sérios problemas afetivos e até sexuais. Parece estranho que o Senhor não tenha realizado uma sessão de cura interior das etapas cronológicas com Maria Madalena, Maria de Betânia, a Samaritana, Zaqueu, Pedro, Tiago e João, Judas e tantos outros que, por suas atitudes, demonstraram carregar sérios problemas oriundos da infância e mesmo na gestação.

Cristo não retomava o passado porque sabia que a única coisa que podemos fazer em relação ao passado é enxergá-lo de um jeito novo e aprender com o que ele tem a nos ensinar. Mas isso se faz vivendo intensamente o presente e projetando o futuro. Jesus foi o grande mestre do perdão. Ele nos mostra que o perdão não acontece de uma hora para outra e nem pode ser uma tentativa de abafar ou simplesmente ignorar essa dor. O perdão é um processo profundo, repetido tantas vezes quantas forem necessárias no nosso íntimo. A pressa é inimiga do perdão!

O perdão nos ensina a nos relacionar, de modo maduro, com o passado. Não é um puro esquecimento dos fatos, nem sua condenação. Não é a colocação de panos quentes e muito menos a tentativa de amenizar os acontecimentos. Perdoar é ser realista o suficiente para começar a ver o passado com os olhos do presente, voltados para o futuro.

Quem não perdoa não consegue se libertar das garras, interiores e exteriores, daquele que o machucou. Mesmo que seja necessário se afastar, temporária ou definitivamente, dessa pessoa, só podemos fazê-lo num clima de perdão.
Antes de colocar para fora do nosso coração alguém que nos machucou é preciso perdoá-lo. Sem perdão, essa pessoa vai permanecer ocupando um espaço precioso de nossa vida e continuará tendo um poder terrível sobre nós.
Do livro "Gotas de cura interior".
Padre Leo, SCJ

domingo, 8 de julho de 2012

VOCAÇÃO: RESPOSTA DE AMOR AO AMOR


 A Vocação Religiosa é um dom para a Igreja e um sinal para o mundo. Os religiosos são consagrados a Deus para servi-lo e para servir os irmãos e irmãs. Este serviço se dá através de um jeito próprio, ou seja, de acordo com o Carisma de cada Congregação religiosa e de cada membro da mesma como um dom, como um modo próprio de ser e agir. Esse dom dado pelo Espírito torna a pessoa  apta a  realizar determinada missão.
O jovem vocacionado ingressa em uma família religiosa conforme o carisma pessoal e de acordo com o Carisma da Instituição que ele escolhe para uma missão específica.

Os Religiosos são homens e mulheres que ouviram um dia o chamado de Deus  para colocarem suas vidas a serviço, em total entrega a Deus e aos irmãos e irmãs. São chamados a deixarem tudo: casa, família, propriedade, bens, e livremente ingressam numa Congregação ou Ordem religiosa. Professam os Votos de pobreza, castidade e obediência.

Pobreza aqui quer ter o significado de capacidade de desprendimento de si mesmo,  não ter nada de próprio, para que, livre dos bens materiais, na liberdade interior, possa ter Deus como o Tudo, único bem, o Absoluto de sua vida.

Castidade é, além da renúncia livre do matrimônio, ser capaz de ofertar seu coração e todo o seu ser a Deus, numa abertura de amor mais ampla, livre, um amor oblativo, a Deus e nele, a todas as pessoas, numa entrega amorosa na missão que assume como projeto de Deus para sua vida.

Obediência: Busca constante da vontade de Deus, para melhor servir. A obediência a Deus passa por mediações: A Igreja, a Congregação religiosa na pessoa dos superiores e à fraternidade.
Ela se dá através de um íntimo relacionamento com Deus, na abertura e confronto aberto, maduro e sincero entre os membros.


A Origem da Vida Consagrada

O Fundamento da Vida Consagrada é Jesus Cristo. Ele que sendo de condição divina não quis viver segundo a glória que tinha, mas se esvaziou, veio a este mundo, tornando-se um de nós, e em atitude de humildade se entregou até à morte e morte de Cruz (cf fil 2, 1-11s). É  Ele próprio quem faz apelo para o seu seguimento:  “Jesus subiu ao monte e chamou os que Ele quis escolher e foram até Ele” ( Mc3,13); Constituiu o grupo dos doze para que ficassem com Ele... e os enviou a pregar, com poder de expulsar os demônios e realizar a mesma missão que Ele realizava.

Além do apelo aos discípulos e aos doze, lança convite ao jovem rico, e como condição da vida em perfeição manda deixar tudo, vender os bens e dar aos pobres, isso seriam as condições para o seguimento. E Fala de alguns que renunciam à vida conjugal e abraçam o celibato por causa do Reino de Deus (Mt 19, 12 a 21).
Também São Paulo Apóstolo fala que escolheu viver sem casar para facilitar a missão (1cor 7, 7)
Nos primeiros tempos do Cristianismo temos o testemunho de homens e mulheres que viviam sem casa em vida de oração e serviço a Deus e aos pobres, bem como o testemunho dos mártires e das virgens que escolhiam morrer preservando a virgindade.

A Vida Religiosa surge  como sua primeira forma, no  séc III e IV  com os Monges do Deserto que buscam viver em oração,silêncio, penitência, jejum e trabalho (Santo Antão, São Basílio, São Pacômio), Mais tarde, São Jerônimo, Santo Agostinho, São Bento. No Séc.XII e XIII São Francisco de Assis e São Domingos, chamadas Ordem dos Mendicantes e a Ordem Feminina, com Santa Clara de Assis.

Assim a Vida Consagrada se expandiu sempre mais através das Congregações Religiosas de Vida contemplativa e ativa. Hoje a ela é  chamada a viver sempre mais comprometida com o profetismo, no anúncio, na denúncia, na renuncia e no testemunho, assumindo a fidelidade dinâmica e criativa que lhe é própria, vivendo a radicalidade do batismo, dentro dela mesma, na Igreja, na sociedade através de sua opção preferencial, audaciosa e atualizada pelos empobrecidos e excluídos da sociedade,vivendo a missão de Jesus, sendo sinal para o mundo, anunciando o Reino de Deus. Por sua natureza ela é profética e sempre é chamada a radicalizar seu jeito de viver e anunciar o Evangelho com seu próprio jeito de ser.

É Jesus a sua força, seu sustento, seu alento, sua luz; por isso o Consagrado busca na palavra de Deus, na oração contínua e na Eucaristia o vigor e as graças necessárias para continuar servindo a Deus e aos irmãos e irmãs com alegria, coragem e esperança
 
Fonte: Por Irmã Eva Maria Nunes 


CONHECENDO NOSSO PASTOR

BIOGRAFIA DE BENTO XVI


Santo Padre
Papa Bento XVI
O Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, diocese de Passau, Alemanha, no dia 16 de abril de 1927, um Sábado Santo, e foi batizado no mesmo dia. O seu pai, comissário da polícia, provinha de uma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições econômicas. A sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de se casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.
Passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta quilômetros de Salisburgo. Foi neste ambiente, por ele próprio definido “mozarteano”, que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.
O período da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família prepararam-no para enfrentar a dura experiência daqueles tempos em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa.
Precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo; fundamental para ele foi a conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.
Nos últimos meses da II Guerra Mundial, foi arrolado nos serviços auxiliares anti-aéreos.
Recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de junho de 1951.
Um ano depois, começou a sua atividade de professor na Escola Superior de Freising.
No ano de 1953, doutorou-se em teologia com a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Passados quatro anos, sob a direção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre “A teologia da história em São Boaventura”.
Depois de desempenhar o cargo de professor de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, continuou a docência em Bonn, de 1959 a 1963; em Münster, de 1963 a 1966; e em Tubinga, de 1966 a 1969. A partir deste ano de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.
De 1962 a 1965, prestou um notável contributo ao Concílio Vaticano II como “perito”; viera como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colônia.
A sua intensa atividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.
Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising. A 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de oitenta anos, que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Escolheu como lema episcopal: “Colaborador da verdade”; assim o explicou ele mesmo: “Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar – embora com modalidades diferentes -, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo atual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade”.
Paulo VI criou-o Cardeal, do título presbiteral de “Santa Maria da Consolação no Tiburtino”, no Consistório de 27 de junho desse mesmo ano.
Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu Enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil, Equador, de 16 a 24 de setembro. No mês de Outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.
Foi Relator na V Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em 1980, que tinha como tema “Missão da família cristã no mundo contemporâneo”, e Presidente Delegado da VI Assembléia Geral Ordinária, celebrada em 1983, sobre “A reconciliação e a penitência na missão da Igreja”.
João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. No dia 15 de fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de München e Freising. O Papa elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo-lhe a sede suburbicária de Velletri-Segni, em 05 de abril de 1993.
Foi Presidente da Comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo Catecismo.
A 06 de novembro de 1998, o Santo Padre aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E, no dia 30 de novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe atribuída também a sede suburbicária de Óstia.
Em 1999, foi como Enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, que tiveram lugar a 03 de janeiro.
Desde 13 de novembro de 2000, era Membro honorário da Academia Pontifícia das Ciências.
Na Cúria Romana, foi Membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Educação Católica, para o Clero, e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, “Ecclesia Dei”, para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico, e para a revisão do Código de Direito Canônico Oriental.
Entre as suas numerosas publicações, ocupam lugar de destaque o livro “Introdução ao Cristianismo”, uma compilação de lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, e o livro “Dogma e Revelação” (1973), uma antologia de ensaios, homilias e meditações, dedicadas à pastoral.
Grande ressonância teve a conferência que pronunciou perante a Academia Católica Bávara sobre o tema “Por que continuo ainda na Igreja?”; com a sua habitual clareza, afirmou então: “Só na Igreja é possível ser cristão, não ao lado da Igreja”.
No decurso dos anos, continuou abundante a série das suas publicações, constituindo um ponto de referência para muitas pessoas, especialmente para os que queriam entrar em profundidade no estudo da teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista “Relatório sobre a Fé” e, em 1996, “O sal da terra”. E, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, publicou o livro “Na escola da verdade”, onde aparecem ilustrados vários aspectos da sua personalidade e da sua obra por diversos autores.
Recebeu numerosos doutoramentos “honoris causa”: pelo College of St. Thomas em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em 1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988; pela Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; pela Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polónia) no ano 2000.
Dia 19 de abril de 2005. Eram 12h50 no Brasil quando a fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina. No princípio, a multidão presente na Praça de São Pedro ficou em dúvida se realmente tínhamos um novo Papa. Logo, também, os meios de comunicação começaram a anunciar a eleição do 265º Papa da Igreja Católica, o legítimo sucessor de São Pedro. Faltava o repicar dos sinos, que aconteceu 13 minutos depois, causando grande euforia no povo, que gritava e chorava de emoção.
Minutos depois, o Cardeal Jorge Arturo Medina Estévez, protodiácono, deu oficialmente o anúncio: “Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam: Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Josephum Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger qui sibi nomen imposuit Benedictum XVI” (Eu vos anuncio uma grande alegria: temos um Papa: Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor, Dom Joseph Cardeal da Santa Igreja Romana Ratzinger, que impôs a si mesmo o nome de Bento XVI).
Surge no balcão da fachada da Basílica de São Pedro o novo Papa, Bento XVI, saudado com enorme entusiasmo pelo povo que lotava a Praça. O Papa, então, pronunciou sua primeira saudação, seguida da Bênção Urbi et Orbi (Bênção para a cidade e o mundo): “Queridos irmãos e irmãs: Depois do grande Papa João Paulo II, os senhores Cardeais elegeram a mim, um simples, humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o fato de que o Senhor sabe trabalhar e atuar com instrumentos insuficientes e, sobretudo, confio em vossas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiados em sua ajuda permanente, sigamos adiante. O Senhor nos ajudará. Maria, sua santíssima Mãe, está do nosso lado. Obrigado.”

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Site da Arquidiocese de Campinas
05/05/2006.

sábado, 7 de julho de 2012

FORMAÇÃO CRISTÃ



Cabeça dura

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Diante de um pluralismo religioso abundante, deparamo-nos também com o posicionamento de rejeição não só da religião mas até de Deus. Há quem se pronuncia como crente mas vive como se Deus não existisse. Opõe-se até a valores propostos por pessoas religiosas, entendendo que se trata de assuntos só ligados à religião, mas, na verdade, e em primeiro lugar, são valores inerentes à natureza dos seres e ligados diretamente à vida e à dignidade da pessoa humana, como não matar um ser humano indefeso antes de ele nascer.
Jesus conviveu com muita rejeição de grupos à sua pessoa e a seus ensinamentos. Sua presença e proposta de vida contrariavam a conduta e o ensinamento de muitas lideranças. Por isso, foi perseguido e morto. Segui-lo requer do discípulo coragem, convicção e vida de fé coerente com o Evangelho. Há quem quer impor ao grupo religioso regras, até contrárias aos valores do mesmo, encarando a religião apenas como entidade de consumo ou seja, de ritos e buscas de vantagens econômicas, de superação de males físicos, psíquicos e sociais. De fato, Jesus curou muita gente desses males, mas não sem dar base à cura da alma. Não basta o bem estar na ordem material e física. É preciso a pessoa usar os meios adequados e ter conduta adequada à consecução de sua plena realização humana, sedimentada no amor vivenciado com a prática do projeto de Deus. A religião não é finalidade. É instrumento. Quanto mais ela se afinar com o projeto do Criador, apresentado pelo Filho de Deus, mais tem eficácia no seu conteúdo e nos seus propósitos. Jesus não instituiu à toa sua Igreja, para ela ser instrumento eficaz de apresentação do ideal de vida que leva a pessoa a conseguir, com grande facilitação, sua meta existencial.
O profeta Ezequiel já lembrava aos judeus rejeitadores da proposta divina: “Eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim.... A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra vou-te enviar” (2, 3.4). A missão de Deus, aceita por quem tem fé é árdua, mas garantidora de sucesso. Se existem os que se opõem à ética, à moral de base à realização humana, à grandeza de caráter, ao respeito à dignidade da vida e da pessoa humana, como templo de Deus, à boa política, à moralidade pública, ao respeito e à promoção da família, à sensibilidade e inclusão dos rejeitados da vida... há também quem luta incansavelmente para apresentar o grande motor da propulsão do bem humano, com a fé transformadora da convivência e com os critérios da cidadania apresentados pelo Filho de Deus.
Os limites humanos, lembrados por Paulo, não devem ser desculpas para alguém rejeitar os valores religiosos que ajudam a construir uma civilização do amor e da justiça: “Foi espetado na minha carne um espinho, que é como um anjo de satanás a esbofetear-me...Mas ele disse-me: ‘Basta-te a minha graça’” (2 Coríntios 12, 79). Encontramos limites humanos em qualquer organização, mesmo a religiosa, que não desmerecem o exemplo e os valores vividos por grandes parcelas e os inerentes à ação divina.
Muitos, mesmo vendo os prodígios realizados por Jesus, ficavam céticos por não terem uma fé baseada na aceitação do divino apresentado com o divino-humano de Jesus. Ele mesmo falou: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (Marcos 6, 1-6). A fé, além de ser dom de Deus, precisa da correspondência de nossa parte.