sábado, 18 de maio de 2013

ENSINAMENTOS DA IGREJA



Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia!


Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo de Mogi das Cruzes (SP)
(O título acima foi tema central da 51ª assembleia geral ordinária da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil – CNBB, realizada em Aparecida-SP, dos dias 10 a 19 de abril de 2013).
As paróquias e as comunidades eclesiais são expressão visível, abrangente e consolidada da presença da Igreja na sociedade. Presentes num território delimitado, as paróquias e suas comunidades são importantes e essenciais instrumentos para a missão evangelizadora da Igreja. A paróquia tem base sólida no código de direito canônico, que lhe dá consistência e respaldo, considerando, dentro da Igreja diocesana, o território onde ela está instalada e constituída, onde seus equipamentos (a igreja matriz, capelas e outros) são edificados e o lugar onde o povo de Deus se congrega.
O Documento de Aparecida, resultado da 5ª Conferência do episcopado latino-americano (realizada em 2007, com abertura feita pelo Papa Bento XVI), fala da necessidade de renovação, revitalização e mesmo transformação das estruturas da Igreja, a começar pela Paróquia. Fala do esforço a ser empreendido para superar uma pastoral de manutenção e da necessidade de uma conversão pastoral.
É nesse contexto de desafios que emerge o fenômeno da migração religiosa, que vem acontecendo de forma intensa há pelo menos duas décadas. Os dois últimos censos (2000 e 2010) oferecem um mapa dessa migração, mostrando a diminuição considerável do número de católicos no Brasil. Em 1990, os católicos somavam cerca de 83% da população brasileira; em 2000, somavam 73,6% dos brasileiros e, em 2010, diminuíram para 64,6%. Tais dados trazem preocupação à Igreja, chamada, hoje, a responder a importantes e novos desafios:
1. O desafio da vida urbana. As paróquias hoje são, geralmente, demograficamente densas, territorialmente grandes, especialmente as localizadas em áreas periféricas das grandes e médias cidades. Daí a necessidade de uma descentralização por meio da existência, em cada paróquia, de outras comunidades eclesiais, além daquela que se reúne na igreja matriz. A expressão “comunidade de comunidades” indica a paróquia em sua presença expandida, formando como que uma rede de comunidades. Onde surge um novo bairro, sem demora, a Paróquia deveria providenciar espaço físico (terreno) para uma nova comunidade.
2. O desafio da identidade. Uma comunidade eclesial será sempre constituída levando em conta as três dimensões fundamentais da vida da Igreja: palavra – liturgia – caridade. A Palavra de Deus chega pelo anúncio do evangelho e pela catequese em todos os níveis, na Igreja. A caridade é o testemunho visível de amor ao próximo, especialmente aos pobres. Tal testemunho dá credibilidade à presença dos cristãos chamados a ser “luz do mundo”. A vida litúrgica e demais aspectos da vida da Igreja têm seu centro na Eucaristia, especialmente a dominical, celebrada no dia do Senhor. Daí a necessidade da presença do sacerdote, a importância de uma eficaz pastoral vocacional e a valorização do ministério ordenado do presbiterato.
3. O protagonismo dos leigos. Cada cristão, isto é, cada batizado, é a presença viva da Igreja no ambiente da sociedade onde ele vive, trabalha, se relaciona. É no mundo e para o mundo que ele dá testemunho público de sua fé e o bom exemplo de pai, mãe, profissional, cidadão... Através do leigo, a Igreja se faz presente nas realidades seculares (presença do mundo no coração da Igreja e presença da Igreja no coração do mundo). Para que isso aconteça, é necessário que o leigo seja valorizado, incentivado, formado e a ele sejam confiados serviços (ministérios), a partir de seus dons (carismas).
Há serviços que os leigos realizam no âmbito interno da Igreja: anúncio da palavra (ministros da palavra), catequese, serviço do altar (ministros extraordinários da sagrada comunhão, salmistas), ministério da coordenação, administração, pastoral dos enfermos, serviço da caridade, isto é, aos pobres, cf. palavras do apóstolo Paulo: nós só nos deveríamos lembrar dos pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude (Gl 2,10). E a opção preferencial pelos pobres se expande considerando a dimensão profética e transformadora da missão dos leigos, sendo fermento, sal e luz (agente) na construção de uma sociedade justa e solidária.
4. Novas expressões. A Paróquia – com seu pároco, suas comunidades, pastorais e conselhos – deve ser o lugar de acolhida das novas realidades ou novas expressões da vida eclesial, como os movimentos, as novas comunidades, as comunidades de vida, as associações. Deve abrir-se também à possibilidade da existência de comunidades e paróquias ambientais, ou seja, aquelas cuja presença e organização transcendem a territorialidade, uma vez que contará com membros participantes de diversos lugares.
5. Novos métodos. Novo ardor e novas expressões, no dizer do Beato João Paulo II, requerem novos métodos. A conversão pastoral requer abertura a realidades novas e a coragem de inovar e não fazer sempre as mesmas coisas, utilizando-se das mesmas estruturas, muitas vezes ultrapassadas. Supõe também, e antes de tudo, conversão pessoal, mudança de coração e de vida, para, depois, sair de si e ir ao encontro dos irmãos, especialmente os afastados, dando-lhes acolhida, propondo um retorno. Acolher de modo especial os jovens, os pobres, doentes, os “contritos de coração”, (tristes, angustiados, deprimidos, solitários, etc...), oferecendo-lhes amparo.
6. Novo ardor (Família e missão). A Igreja, família dos discípulos de Jesus Cristo, é formada pelas famílias. A pastoral familiar empreende esforço para ajudar os casais e as famílias, buscando respostas a novas situações familiares, como a dos casais em segunda união estável e outras ... A Igreja ajudará as famílias a educarem seus filhos na fé, na piedade, na freqüência aos sacramentos, numa conduta exemplar. Do novo ardor cristão nas famílias decorre um novo ardor vocacional e missionário ...
7. Anúncio e Catequese. Não se descuide da transmissão da fé (católica), a partir de um processo contínuo de iniciação cristã (catecumenato) e formação catequética e doutrinal em todos os âmbitos e para todas as idades. Serve de inspiração o Sínodo para a “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”, acontecido em outubro de 2012, e que contou com a participação de cerca de 400 pessoas do mundo inteiro e a presença do então Papa Bento XVI.
A perda de fiéis católicos e os inúmeros desafios do mundo urbano deveriam suscitar na Igreja uma nova missionariedade, um novo esforço, um novo entusiasmo evangelizador. Isso vem do próprio mandato do Senhor ressuscitado aos apóstolos: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). E também: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,19-20). E ao prometer e anunciar a vinda do Espírito Santo: “vós sois testemunhas disso” (Lc 24,48).
Dom Pedro Luiz Stringhin
i

PENTECOSTES



Ousadia Ecumênica

Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Com o domingo de Pentecostes se conclui a semana de orações pela unidade dos cristãos. Entre nós, ela coincide com a preparação de Pentecostes. Na Europa, ela é celebrada na semana que precede a festa da conversão de São Paulo, a 25 de janeiro.
Sempre é bom lembrar que foi no contexto desta “semana de orações pela unidade dos cristãos” que João XXIII lançou a ideia do Concílio, em 25 de janeiro de 1959.  Desde o início, o Concílio esteve ligado ao ecumenismo.
De fato, foi a causa ecumênica que proporcionou o ambiente de pronta acolhida à iniciativa de João XXIII. Tanto que no começo, a versão que se difundiu era que o Concílio iria realizar uma ampla reunião dos representantes das diversas Igrejas Cristãs, com a finalidade de superar os desentendimentos acontecidos no passado, e propor um caminho de plena reconciliação.
O povo se entusiasmou, achando que o Concílio iria refazer a unidade entre os cristãos.
Para segurar este entusiasmo ecumênico, João XXIII sentiu a necessidade de fazer alguns esclarecimentos. Mesmo que suscitado pela causa ecumênica, o Concílio seria realizado pela Igreja Católica, como caminho prévio para aplainar a estrada do diálogo entre as Igrejas, identificando os passos que precisavam ser dados para a lenta aproximação entre os cristãos.
Com isto, cresceu a consciência da gravidade das divisões acontecidas, e da complexidade de sua superação. Mesmo convidando “observadores” de outras Igrejas, o Concílio se realizaria no âmbito da Igreja Católica.  Mas ele seria “ecumênico” não só por sua índole de abertura para a dimensão universal dos assuntos a serem tratados, mas também no sentido mais restrito da palavra, fazendo da preocupação com a unidade dos cristãos a referência permanente para todos os assuntos a serem tratados.
Assim, o sonho da plena reunificação dos cristãos ficaria para depois do Concílio, como fruto de iniciativas a serem levadas em frente, de acordo com as orientações aprovadas pelo Concílio, e consignadas no documento “Unitatis Redintegratio”, o decreto sobre a prática do ecumenismo.
Olhado o Concílio à distância de 50 anos de sua realização, é forçoso constatar que os avanços ecumênicos foram muito lentos. Houve passos positivos de aproximação com os luteranos, expressos na declaração conjunta, mostrando que não existem diferenças em torno da tese central de Lutero, sobre a justificação. Daria para dizer que os impasses doutrinais entre católicos e luteranos estariam superados. O que não significa dizer que já foram analisadas as questões práticas de uma eventual reconciliação entre católicos e luteranos.
Com o mundo ortodoxo, houve gestos muito fecundos, que produziram mudanças significativas no clima do relacionamento entre as duas grandes tradições eclesiais do cristianismo, a “Igreja do Oriente” e a “Igreja do Ocidente”.  Ainda permanece no horizonte do clima ecumênico do Concílio, o abraço de paz entre o Patriarca Atenágoras de Constantinopla, e o Papa VI, retirando a “excomunhão mútua”, acontecida no longínquo ano de 1054.
Diante do esfacelamento eclesial hoje existente, com o proliferar de tantas denominações cristãs, parece sempre mais clara e mais urgente a responsabilidade de católicos e ortodoxos refazerem sua plena comunhão eclesial, para juntos testemunharem o tesouro da fé que Cristo confiou aos seus discípulos.
O fato é que o Concílio recebeu do movimento ecumênico o impulso para a sua realização. Agora, para levar em frente a sua implementação, se faz necessária a retomada do ecumenismo, com maior ímpeto e mais ousadia.
Nestes dias, o Patriarca Teodoro II, dos Ortodoxos Coptas, do Egito, visitou o Papa Francisco, demonstrando grande disposição para a plena reconciliação entre as duas Igrejas.
Como falou o etíope ao Diácono Felipe: “temos aqui água, o que me impede de ser batizado?” (Atos 8, 37), poderíamos dizer a Francisco e a Teodoro: “o mundo está necessitado, os cristãos estão esperando, o que falta para a completa reconciliação?”

Neopaganismo e esperança cristã



Neopaganismo e esperança cristã


Dom Pedro Carlos Cipolini 
Bispo de Amparo (SP)
Não devemos ceder ao saudosismo que diz ter sido melhor o ontem do que o hoje. O realismo impõe admitir que em todas as épocas existiram pessoas e situações, boas e más, circunstâncias que ajudaram a construir um mundo melhor, e outras, que de forma negativa contribuíram para o atraso. Por outro lado, a noção grega do eterno retorno que entregava a sorte do mundo a um destino inexorável, um mundo “semper idem”, não parece uma idéia correta, diante das transformações pelas quais passamos de algumas décadas para cá.
A humanidade se move, caminha e por isso tem marcha, contramarcha, marcha a ré. Ás vezes tem saudades de etapas superadas. Refiro-me à volta de um certo paganismo, que aos poucos vai rejeitando os princípios cristãos. Pagão era a denominação das pessoas que moravam no campo ou aldeias (pagus), e que não tinham tido oportunidade de receberem a mensagem cristã, ou que a rejeitavam. Em um mundo violento como aquele no qual o Estado legislava sobre a justificação do infanticídio, e era legal divertir-se nos circos jogando pessoas para serem devoradas pelas feras, é inegável a contribuição do cristianismo para a existência de uma sociedade mais justa e fraterna.
O cristianismo vai introduzir a idéia da sacralidade da vida humana, da compaixão para com os fracos e sofredores, o milagre da partilha dos bens nas comunidades onde as pessoas se queriam como irmãos e irmãs, vai propor um novo relacionamento entre o homem e mulher, fundado no amor. O cristianismo vai colocar Deus acima de tudo, até o martírio. De fato, o que faz o mártir não é seu sofrimento, mas sua causa e no cristianismo o Reinado de Deus é a causa do cristão.
O neo paganismo se faz sentir na atualidade através do reinado absoluto do dinheiro que decretou a morte de Deus. A herotização de todos os setores e etapas da vida, individualismo, droga e violência. O homem se olha no espelho e exclama: sou Deus para mim mesmo! O ser humano não só pensa, mas “faz sua verdade”, e pretende por e dispor da vida como se fosse seu autor. A banalização da vida humana, eis o traço mais característico do que parece ser uma recaída no paganismo.
 Nossa civilização, dominada pelo racionalismo iluminista decretou a “morte do Pai”: a razão nos liberta de tudo e de todos, não precisamos mais de autoridade! A morte de Deus (Pai), foi colocada como condição para a felicidade do homem. Este deve pautar sua vida pelo secularismo e ateísmo prático.
A globalização sem solidariedade está criando dois mundos antagônicos: o mundo dos ricos no qual se morre de tédio e o mundo dos miseráveis no qual se morre de fome. Como não pensar na vida condenada de milhões de pessoas, especialmente crianças sujeitas à fome e à desnutrição, causada pela iníqua distribuição de riquezas entre povos e classes sociais? Os crimes ecológicos e a violência institucionalizada? Desencadeia-se uma “conspiração contra a vida” em uma civilização de morte como alertava João Paulo II. A sociedade sem a figura do Pai (Deus) resulta em uma multidão de solitários, faz surgir o “pensamento fraco” em uma “sociedade líquida” que gera só vazio. A parábola do Filho Pródigo é paradigmática neste sentido (Lc  15,11-32).
A situação está assim, mas não impede os cristãos de celebrar a vida com esperança renovada. Mais que nunca a missão do cristão hoje é transmitir a esperança que brota da fé. Como diz o poeta: “Está escuro mas eu canto”. Com o Ressuscitado vencedor da morte, o mundo sempre volta a começar, pois na escuridão brilhou uma luz que ninguém poderá apagar.  É o mundo de Deus que cresce em meio ao paganismo, cresce no coração das pessoas de boa-vontade. É a semente de mostarda, escondida muitas vezes, mas que frutificará cem por um e se alastrará a partir daqueles que sabem dar esperança ao mundo.
A fé e a caridade são virtudes teologias, mas não atuam sem sua irmã menor: a esperança. Também esta, virtude teologal que une as duas outras na construção do mundo novo projetado por Deus: o mundo à luz da Páscoa!
Dom Pedro Carlos Cipolini 
Bispo de Amparo (SP)

sábado, 11 de maio de 2013

FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR



Aprender com os outros

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Uma enfermeira australiana – Bronnie Ware – escreveu um livro original. Tendo se dedicado a doentes terminais, colecionou suas queixas, seus arrependimentos e seus sonhos não realizados. Tinha consciência de que aquilo que foi ouvindo de uns e de outros ao longo de alguns anos era muito mais do que meros desabafos, mas ela estava, sim, diante de sentimentos profundos, de dores que machucavam, de vidas não vividas. Para que o livro não se tornasse apenas um amontoado de depoimentos, organizou-os em grandes grupos, aos quais denominou “Os cinco maiores arrependimentos à beira da morte”. São eles:
1º - “Eu gostaria de ter tido a coragem de viver a vida que eu quisesse, não a vida que os outros esperavam que eu vivesse”. Segundo Ware, esse foi o arrependimento mais comum. Diante da proximidade da morte, muitos olhavam para trás e tomavam consciência do que gostariam de ter feito e não fizeram, preocupados sempre com imposições externas ou com o desejo de querer agradar. Em outras palavras, poderiam escolher para a lápide de sua sepultura a frase: “A vida que poderia ter sido e não foi”.
2º - “Eu gostaria de não ter trabalhado tanto”. Essa afirmação nascia especialmente da boca de homens que tinham passado a vida envolvidos pelo trabalho, pela luta para aumentar seu patrimônio ou para serem sempre mais famosos. Percebiam, de repente, que não haviam acompanhado a infância e a juventude seus filhos, que a família tinha ficado sempre em segundo plano, embora procurassem se convencer, enquanto estavam em sua roda viva, que era para a esposa e os filhos que tudo faziam.
3º - “Eu queria ter tido a coragem de expressar meus sentimentos”. Alguns se arrependiam por não terem sido capazes de expressar seu amor e seu carinho ou por não terem sido capazes de fazer elogios a quem os merecia. Outros guardavam ressentimentos antigos, fazendo de seu coração um “freezer”, onde sua amargura estava congelada, sempre pronta a se manifestar. Agora, se perguntavam: “Para quê? De que adiantou isso?”
4º - “Eu gostaria de ter tido mais tempo para meus amigos”. Muitos descobriram que não haviam cultivado velhas e sinceras amizades, e que não era naquela fase final da vida que iriam conseguir novos amigos.
5º - “Eu gostaria de ter-me permito ser mais feliz”. Expresso isso com minhas palavras: o grande erro de muitas pessoas consiste em estragar a vida com mesquinharias, com insatisfações não superadas, com o fechar-se em si mesmas, num egoísmo que mata a alegria.
Percebe-se que a autora do livro, não sei se premeditadamente, não entrou no campo espiritual, religioso. Por isso, sem pretender completar seu interessante trabalho, mas como expressão do que penso e acredito, faço duas observações envolvidas pela perspectiva da fé.
A primeira diz respeito a Santo Agostinho. Para que todos o situem no tempo, lembro que ele morreu no ano 430. Depois de uma vida atribulada em busca da verdade, escreveu os caminhos que percorreu até encontrá-la, no livro autobiográfico “Confissões”. Começou constatando: “Criaste-nos para ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti”. E concluiu: “Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova; tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim. (...) Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. (...) Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e inflamei-me na tua paz.”
A segunda observação é de Jesus Cristo, e ele a apresentou sob a forma de uma pergunta: “De que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a própria vida?” (Mateus 16,26). Traduzindo isso em palavras muito pobres posso dizer: onde ficaram as vaidades de muitos, os bens que acumularam – muitas vezes de maneira não honesta–, os prazeres que dominaram suas vidas? O que fica de uma vida, além do amor semeado? Oportuno é, pois, o pensamento que bem poderia servir de título para um livro: “A vida nos é dada para procurar Deus; a morte, para encontrá-lo; e a eternidade, para possuí-lo”.

sábado, 4 de maio de 2013

BEATIFICAÇÃO DE NHÁ CHICA



Nhá Chica

Francisca de Paula de Jesus, dita Beata em Baependi, MG, em 04 de Maio de 2013, conhecida popularmente como Nhá Chica, nasceu em 1810, no povoado de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, um dos atuais cinco distritos de São João del-Rei, município do estado brasileiro de Minas Gerais, onde também foi batizada no dia 26 de abril de 18101 . Pouco tempo depois sua família mudou-se para a cidade de Baependi, no sul deste estado, onde viveu até 14 de junho de 1895, data de seu falecimento, porém só foi sepultada dia 18 de junho no interior da capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, construída por ela.
É considerada por muitos católicos como santa, de modo que o processo de canonização já se encontra em tramitação no Vaticano.

Biografia

Filha e neta de escravos, Francisca de Paula de Jesus ficou órfã aos dez anos. Mulher humilde, era fervorosa devota de Nossa Senhora da Conceição, e, a pedido da mãe, passou a vida inteira a dedicar-se à prática de caridade. Leiga, foi chamada ainda em vida de "a mãe dos pobres". Respeitada por todos que a procuravam, desde os mais humildes aos homens do Império. Durante 30 anos, reuniu doações para construir a capela de Nossa Senhora da Conceição, onde hoje funciona o Santuário da Conceição, na cidade mineira de Baependi. Francisca de Paula de Jesus também era conhecida com "Nhá Chica".

Beatificação e Canonização

Nhá Chica, já em vida, passou a ser aclamada pelo povo como a Santa de Baependi, por sua fé. O Processo Informativo Diocesano começou em 16 de julho de 1993, tendo sido encerrado em1995, quando foi para Roma. O Relator deste processo foi o Pe. José Luís Gutiérrez. A causa ficou parada até 1998, quando assumiram como Postulador Frei Paolo Lombardo, OFM e como vice-postuladora Ir. Célia Cadorin, Ciic (mesma religiosa que atuou nas causas de Madre Paulina e Frei Galvão). Desde 1991 é reconhecida como Serva de Deus, título que recebeu oficialmente da Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano.
Em 18 de junho de 1998 foi feito o reconhecimento dos restos mortais de Nhá Chica, na presença de autoridades eclesiásticas, de membros do Tribunal Eclesiástico pela Causa de Beatificação de Nhá Chica, da Comissão Histórica e de médicos legistas. Ainda em 1998, o Tribunal Eclesiástico Pela Causa de Beatificação de Nhá Chica apresentou à Diocese de Campanha um provável milagre para ser enviado e analisado pelo Vaticano.
A causa de Canonização de Nhá Chica está aguardando desde 2007 o anúncio de sua beatificação. Em 2007 uma graça foi atribuída a Nhá Chica referente a uma professora Ana Lúcia Meirelles Leite, moradora de Caxambu, em Minas Gerais.
Ana Lúcia foi curada de um problema congênito muito grave no coração, sem precisar passar por cirurgia, apenas pelas orações de Nhá Chica. O fato se deu em 1995. A graça foi aceita pelo Vaticano, que analisa o pedido de beatificação. O início da campanha pela canonização se deu em 1952. A instalação da Comissão em prol da Beatificação teve início em 1989 e depois em definitivo foi instalada em 14 de janeiro de 1992.
A publicação da Positio, documento que reúne todos os dados e testemunhos recolhidos durante a fase Diocesana, corresponde à primeira etapa do processo de beatificação e aconteceu no dia30 de outubro de 2001. O documento seguiu para o Vaticano para ser apreciado pela Congregação para as Causas dos Santos.
Em 30 de abril de 2004, os bispos brasileiros reunidos em sua 42ª Assembléia Geral da CNBB assinaram um documento pedindo pela beatificação de Nhá Chica. O documento que reuniu 204 assinaturas de Bispos de 25 estados brasileiros foi encaminhado pela Diocese de Campanha ao então Papa João Paulo II.
No dia 8 de junho de 2010, a Congregação para as Causas dos Santos deu parecer favorável às virtudes da Serva de Deus Nhá Chica2 .
No dia 14 de janeiro de 2011, o Papa Bento XVI aprovou o decreto da Congregação para as Causas dos Santos sobre as virtudes heróicas da Serva de Deus3 . Nhá Chica pode receber o título de Venerável, estando assim mais próxima da beatificação4 .
Aguarda-se o reconhecimento, por parte da Santa Sé, do milagre da cura, atribuído à intercessão de Nhá Chica, da professora de Caxambu, Ana Lúcia Meirelles Leite que sofria de problemas cardíacos.
No dia 13 de outubro de 2011, a Comissão Médica da Congregação para as Causas dos Santos, depois de analisar o possível milagre da cura da professora Ana Lúcia, declarou que a cura não tem explicação científica5 .
Em 28 de junho de 2012, o Papa Bento XVI autorizou a Congregação para a Causa dos Santos a promulgar o decreto de um milagre atribuído a intercessão da Venerável Mineira .
A Data da beatificação está marcada para o dia 04 de Maio de 2013 em Baependi-MG.


PARA VER, OUVIR E REZAR . . .

CUIDAS DE MIM
Fábio de Melo e Olívia Ferreira

PALAVRA DOS PASTORES


Nota Oficial da CNBB sobre a Beatificação de Nhá Chica


cnbbA Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publica nota sobre a beatificação de Francisca de Paula de Jesus, conhecida como Nhá Chica. No texto, a entidade destaca que "o reconhecimento pela Igreja da santidade de Nhá Chica, passado pouco mais de cem anos de sua morte, confirma a importância de se colocar em relevo o exemplo de sua vida de fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho".
A seguir, a íntegra do texto:
Nota Oficial da CNBB sobre a Beatificação de Nhá Chica

Brasília, 2 de maio de 2013

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com toda a Igreja, louva e bendiz a Deus pela Beatificação de Francisca de Paula de Jesus, carinhosamente chamada pelo povo de Nhá Chica, neste sábado, 4 de maio de 2013, na cidade mineira de Baependi. O reconhecimento pela Igreja da santidade de Nhá Chica, passado pouco mais de cem anos de sua morte, confirma a importância de se colocar em relevo o exemplo de sua vida de fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho.
A Beatificação de Nhá Chica é uma mensagem de extraordinário significado e importância para nossa Igreja. Filha e neta de escravos, analfabeta, órfã ainda criança, viveu no escondimento, na pobreza e na simplicidade. Devota de Nossa Senhora da Conceição, consagrou seu tempo e consumiu sua vida, como leiga que testemunha a fé, servindo às pessoas, especialmente na nobre tarefa de escutar e aconselhar. Seu cuidado com os mais pobres rendeu-lhe o belo título de “Mãe dos pobres”. Aos que lhe atribuíam favores especiais, respondia com a verdade de quem crê: “Isso acontece porque rezo com fé”.
A biografia de Nhá Chica revela sua vida de intimidade com Deus e nos estimula a buscar o ideal proposto por Cristo, como nos lembra São Paulo: “A vontade de Deus é esta: a vossa santificação” (1Ts 4,3). O testemunho de nossa mais nova Beata torna-se, portanto, convite irrecusável a viver intensamente o encontro com Jesus Cristo que “implica necessariamente amor, gratuidade, alteridade, unidade, eclesialidade, fidelidade, perdão e reconciliação” e leva cada discípulo-missionário a se tornar “fonte de paz, justiça, concórdia e solidariedade” (cf. DGAE, 16).
Saudamos e agradecemos à Diocese de Campanha e a todos que se dedicam à causa de canonização de Nhá Chica, bem como ao Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato, por presidir a cerimônia de beatificação desta Serva de Deus.
Que a Beata Nhá Chica alcance de Deus graças e bênçãos para todo o povo brasileiro e nos ensine a trilhar o caminho da santidade, vivendo na simplicidade e na pobreza evangélicas.

Raymundo Damasceno Assis
Cardeal arcebispo de Aparecida (SP)
Presidente
José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luis (MA)
Vice-presidente
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo auxiliar de Brasília (DF)
Secretário Geral

IGREJAS IRMÃS! PARTICIPE!