quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

MARIA: ONIPOTÊNCIA SUPLICANTE




Maria não recebe, como Pedro, as chaves do Reino, nem recebe, como os apóstolos, o mandato de percorrer o mundo pregando o Evangelho. Maria não escreve o relato de quando viveu, como fazem os evangelistas, nem sérios tratados como os teólogos. Sem dificuldades, sua influência na Igreja, tanto no tempo dos Apóstolos como em todos os séculos que se seguiram desde então, é muito maior que dos Apóstolos, Papas, Teólogos e Evangelizadores.
A que se deve sua influência? A sua condição de Mãe de Deus e de nossa intercessora junto a Ele. Como Mãe, possui as chaves do coração de Deus. Como intercessora, e não tem deixado de usá-las de geração em geração.
São João da Cruz nos dá uma lindíssima explicação direta acerca da eficácia desta intercessão mariana: "Não há obra melhor e mais necessária- nos diz - que o amor. Quando alguém alcança este estado de união em amor, não lhe convém ocupar-se em outras obras, nem de exercícios exteriores, que podem lhe tirar a sua atenção de Deus, porque é mais proveitoso estar diante de Deus... Um pouquinho deste amor puro faz mais proveito à Igreja, mesmo que pareça nada fazer, que todas as outras obras juntas... Atentem, pois, aqui os que são muito ativos, que pensam levar ao mundo com suas pregações e obras exteriores, que muito mais proveito fariam à Igreja e agradariam muito mais à Deus, se sequer gastassem a metade deste tempo estando em oração" (Cântico Espiritual, cap. 29, 2).
Maria sempre viveu neste estado de união perfeita com Deus por amor. Pertenceu sempre e completamente à Deus e Deus à ela. Daí sempre Ter atuado em conseqüência: tratando de obter para nós, mediante a sua intercessão, tudo aquilo que depende do poder de Deus: saúde física e espiritual, superação das dificuldades da vida, etc.
UMA INTERCESSORA DE POUCAS PALAVRAS
João nos apresenta à Maria em duas ocasiões chave: em Caná e no Gólgota.
Em ambas Jesus se dirige a ela chamando-lhe de "Mulher". E em ambas Maria acompanha o filho como co-intercessora e como modelo de intercessão.
"Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia e achava-se a mãe de Jesus" (João 2,1).
Recordemos: a presença de Maria em nossas vidas é o melhor convite e garantia da presença de Jesus.
"Eles já não tem vinho."
Pensemos: na cultura mediterrânea , a falta de vinho em uma boda constituía um desastre traduzido em uma grande vergonha para os recém-casados. Ninguém, nem os noivos, nem o mordomo, ninguém havia se dado contade tal situação. Só Maria que observava a todos com olhos de mãe.
Nada como o amor para aguçar a visão, não para reparar os defeitos, mas para ver as necessidades do próximo, assim como as possibilidades de solução. Assim diz um ditado hebreu: "Como Deus não pode estar em todas as partes para atender a todos, então criou as mães."
Se observarmos tudo "pela ótica do coração" , descobriremos constantemente necessidades alheias, e às vezes muito urgentes. Algumas, nós mesmos podemos solucionar. Outras - as más - apresentamos em oração silenciosa e intercessora diante de quem pode solucionar tudo. A intercessão é muito mais eficaz do que ficar murmurando. Muito mais do que este gesto habitual de levarmos as mãos à cabeça e lamentarmos , que, além de importuno, é terrivelmente ineficaz.
A intercessão de Maria não pôde ser mais breve:
"Eles já não tem vinho."
Cinco palavras. Nada de explicações a quem tudo sabe. Nada de argumentações para convencer a quem é toda a bondade. Nada de aconselhamentos e sugestões a quem tudo pode. A eficácia de nossa oração não depende da lucidez de nossas argumentações nem da eloquência de nossas palavras, nem da perfeição de nossos ritos, nem da sonoridade de nossos cantos. Depende unicamente da nossa fé e esperança no Senhor, assim como nosso amor ao próximo.
Quantas palavras desnecessárias em nossas orações pessoais e comunitária!
Certos de que o que importa unicamente é a fé. E se não, voltarmos ao diálogo de Maria com Jesus. Diante das palavras de Maria, Jesus responde de forma inesperada:
"Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou"(João 2,4).
Maria entendeu aquelas palavras? Provavelmente não. Mas creu. Cria e sabia que Deus jamais permaneceria indiferente às necessidades de seus filhos. E sabia que agrada mais a Deus as orações que fazemos ao pedir pelos pobres e necessitados.
Posta à prova, a fé de Maria cresce e se faz contagiosa. Depois disto, diz aos serventes:
"Fazei o que ele vos disser"(João 2,5)
E fizeram... e a água se transformou em vinho!
Nossos irmãos protestantes têm razão em afirmar que o único Salvador é Jesus; que dele nos vem toda a graça; que nele depositamos toda a nossa confiança. Porém erram, sem dúvida, nossos mesmos irmãos quando daí concluem que se pode (e se deve) prescindir de Maria. Jesus estava presente em Caná, mas o Evangelho é muito claro em mostrar que Jesus nunca haveria feito o que fez se Maria não estivesse ali. Em quantos lugares faltam o vinho da alegria, do amor e da graça ! Quantas coisas estão ficando escassas hoje mesmo na igreja ! Por que ouvir o poder intercessor daquela que é Mãe de todos?
Observemos, enfim o que a passagem do Evangelho conclui dizendo: "Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia.. Manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele."(João 2,11).
Enquanto houver intercessores como Maria, Deus continuará preparando surpresas para nós... e seguirá crescendo a fé do povo nele.
SILENCIAR: O MODO MAIS EFICAZ DE INTERCEDER
Do mesmo modo que a Escritura nos apresenta a Eva (mãe dos viventes) junto a uma árvore, e a Maria ( a mãe dos que crêem) junto à árvore da cruz de seu filho. De pé, silenciosa: "Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe..." (João 19,25).
Maria, que havia sido a primeira redimida, vem ser agora a primeira co-redentora.
Por isso, diante deste insondável mistério da cruz, Maria sofre, silenciosa, ora e medita os insondáveis desígnios do Pai. Maria segue crendo sem compreender nada.
Nunca se viu um sermão mais eloqüente sobre a dor como o do silêncio de Maria diante da cruz do mais íntimo de seus filhos. Em meio aos grandes sofrimentos, escreve São Paulo, em uma ocasião: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja." (Colossenses 1,24)
Com muito mais razão se pode dizer das dores de nossa Mãe: "Me alegro em compartilhar plenamente os tormentos e a morte de meu Filho pelo nascimento da Igreja, seu novo corpo!"
Não nos cabe a menor dúvida de que o modo mais profundo e eficaz de interceder e de colaborar na obra da redenção universal é unindo nossa dor à de Cristo Jesus, nossos sofrimentos aos seus, nossa morte a sua. E fazê-lo no menor silêncio possível.
Sofrer em silêncio, suportar em silêncio, agüentar em silêncio, consentir em silêncio, esperar em silêncio, como Maria!
Quando a dor é demasiadamente grande para colocarmos em palavras, gritamos em silêncio. Quando você sofre e não compreende, abandone-se nas mãos de Deus, e sua oração irá se transformar na oração mais profunda e transformadora. E quando se vive esta mesma experiência de Maria, a solidariedade com os outros é a maior de todas as intercessões .


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