sexta-feira, 25 de maio de 2012

COM DEUS




Dom Eduardo Benes
Arcebispo de Sorocaba (SP)
“Uma sociedade em que Deus está ausente não encontra consenso necessário sobre os valores morais e a força para viver segundo esses valores, mesmo contra os próprios interesses (Bento XVI). No dia 22 de abril passado visitei com outros bispos a Fazenda da Esperança em Guaratinguetá. “Fazenda da Esperança” é como se intitulam as comunidades terapêuticas que abrigam jovens dependentes químicos. Tudo começou com a força do grão de mostarda: “Nelson buscava colocar em prática a frase “Fiz-me fraco com os fracos a fim de ganhar os fracos” (I Cor 9,22). Estimulado por Fr. Hans aproximou-se de um grupo de jovens que usavam droga. Nelson conquistou a confiança daqueles dependentes químicos. Um deles Antonio Eleutério foi o primeiro a ser contagiado e pediu ajuda para se libertar. Depois ao Nelson e ao Fr. Hans vieram se juntar outros(as) e a obra foi crescendo.A Fazenda da Esperança se espalhou ganhando proporções globais. Ficou ainda mais conhecida no mundo depois da visita do papa Bento XVI, em 2007, à comunidade das Pedrinhas na cidade onde nasceu esse trabalho no interior de São Paulo. O jovem que aceita o desafio de se libertar encontra um recanto de amor regido pelo tripé: “Trabalho, Convivência, Espiritualidade”’ Cada manhã um versículo da Bíblia é tomado como compromisso daquele dia.
A Palavra oferece a mística. O amor fraterno é o clima e o trabalho é a ocupação. Um ano de convivência e 80% dos dependentes voltam e, reintegrados em suas comunidades de origem, perseveram no caminho.  Há aqueles que decidem ficar na comunidade para retribuir o que receberam. Hoje são 56 fazendas da esperança espalhadas pelo mundo. Qual o segredo de tal sucesso? A Palavra de Deus. O Dia começa sempre com a Palavra, proclamada na celebração eucarística e levada para a lida diária. Assim como a Palavra, vivida por Paulo: “Fiz-me fraco com os fracos a fim de ganhar os fracos” (I Cor 9,22),mobilizou o coração de Nelson, assim a Palavra continua liberando nos corações aprisionados no vício da droga, a poderosa energia do amor que liberta para o verdadeiro sentido da vida.
O Fr. Hans, os sacerdotes, os consagrados e os leigos  - muitos salvos do vício pela experiência ali vivida – se dedicam inteiramente  aos jovens que lá procuram, desesperadamente, a liberdade que não encontraram na aventura louca do vício. A Fazenda da Esperança não é um hospital, nem mesmo uma mera casa de recuperação de drogados. A Fazenda Esperança é uma comunidade que ora, vive a fraternidade e trabalha. Lá as pessoas não apenas se desintoxicam da dependência química, elas se desintoxicam do pecado do mundo; descobrem o sentido da vida; aprendem a amar e fazem a experiência de ser família. Lá o trabalho não é mera profissão, é graça, missão vivida à luz da Palavra. Lá se conhece um Deus que salva, solidário, que, imobilizado na cruz da dependência química, opera nas almas cativas o milagre de sua ressurreição. O segredo é este: “a Palavra se fez carne e habitou entre nós” e tendo vindo para o nosso meio, fez-se servo, “obediente até a morte e morte de Cruz”. O Pai o ressuscitou e o fez causa de salvação para todos os que nele crêem. (cf. Filp ). Viver em comunidade o dia todo, e todos os dias, a experiência da presença misericordiosa de Deus, cria uma atmosfera que faz desabrochar nos corações a esperança revelando um caminho novo para a vida. Refletindo sobre o que vi e ouvi fiquei a pensar como seria o mundo se cada pequeno agrupamento humano – família, escola, hospitais e outros – escutasse e vivesse o dia todo, e todos os dias, da Palavra de Deus. Mas...não. O Estado é laico. Fica proibida a oração nas escolas bem como falar de Deus.  Como seria bom e salutar se todos os dias as atividades escolares se iniciassem com uma oração – o Pai Nosso, por ex. – seguida de uma leitura do novo testamento, explicada por um(a) professor(a), que, com autenticidade, propusesse um pensamento para iluminar os trabalhos do dia.
Que tal vinte minutos por dia para pedir a graça de Deus e ouvir sua Palavra? Na pedagogia do AA – Alcólicos Anônimos – o segredo da libertação está na decisão de entregar a vontade e a vida aos cuidados de um Poder Superior. Para o cristão o Poder Superior tem um nome: Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo. Se não falamos de Deus em nossas escolas, onde a maioria absoluta dos estudantes foi batizada em Igrejas cristãs, se não expressamos em nosso comportamento a presença de Deus, vendo em cada criança ou adolescente, a presença misteriosa de Cristo, se nossas escolas não forem plasmadas pelo espírito comunitário, estaremos negando às novas gerações os valores, somente eles, capazes de fazer do mundo morada digna do ser humano. Nossas escolas poderiam ser comunidades assim.  Mas...o Estado é laico!!! (Acesse no Google”Fazenda da Esperança”).
Dom Eduardo Benes

Arcebispo de Sorocaba (SP)

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