sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CRISTIANISMO X DARWINISMO SOCIAL


César Augusto Rocha
               
 Partindo do pressuposto de que o mundo com as suas diferentes realidades e demandas sociais é o campo específico de atuação dos cristãos, particularmente, dos leigos e leigas, como fermento de transformação, desvela-se diante de nós, um grande desafio: COMO ENFRENTAR UM FENÔMENO CONHECIDO COMO “DARWINISMO SOCIAL” NA CONTEMPORANEIDADE ? O termo, inspirado no pensamento de Charles Robert Darwin (1809-1882) - famoso naturalista britânico - foi popularizado em 1944, pelo historiador americano Richard Hofstadter e designa o processo de enriquecimento e “empoderamento”gradativo de uma pequena parcela da população em detrimento a uma grande maioria que vive em situação de vulnerabilidade e abandono social.
                A tradição cristã ao longo dos séculos sempre legitimou a ideia da justa distribuição de renda e da prática da caridade cristã. São Basílio, falando da avareza dos ricos, diz: “pertence ao faminto o pão que tu reténs”. E questiona sobre a prática da ganância: “como irei por diante de teus olhos os sofrimentos dos famintos, de tal maneira que tu fiques conhecendo de que espécie de gemidos tu entesouras para ti?” São João Crisóstomo, por sua vez, referindo-se aos pobres, exorta os fiéis a “convencerem-se de que a maior honra está em se lhes assemelhar ao comungarem com suas mesmas tribulações”. Diz, incisivo, São Gregório de Nissa: “com palavras somente não se enriquecem os necessitados, deem-lhes casa, leito e mesa, é isto a Palavra de Deus, anterior aos séculos”. A concentração de renda, o acúmulo de riqueza e bens materiais, a disparidade gritante entre ricos e pobres dentre outros aspectos da vida moderna, não se coadunam com os princípios evangélicos que insistem a todo instante na partilha, na solidariedade fraterna e na autêntica vida em comunidade. Ainda se canta com frequência: “Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria, Deus espera que os dons de cada um se repartam com amor no dia-a-dia”. Temos conseguido vivenciar concretamente o que este refrão meditativo nos ensina e nos interpela?
            Infelizmente, parece que nos distanciamos um pouco ou muito das fontes, da inspiração primeira que caracterizou esta prática cristã. Dividir os bens com alegria tem um sentido profundamente emblemático para os seguidores de Jesus. Muito mais importante do que prover uma necessidade imediata, emergencial, de uma família ou indivíduo, é fazer-se doação e ter empatia das dores e sofrimentos alheios. A atitude paternalista feita muitas vezes por desencargo de consciência deve dar lugar à prática do amor sincero, desinteressado e altruísta. Num segundo momento, é preciso intervir de forma incisiva e organizada contra as estruturas sociais e políticas geradoras de todo esse processo de exclusão e marginalização, de uma forma crítica e propositiva, para construir coletivamente, a partir das bases, alternativas de mudança e transformação social.
                  Como podemos comungar semanalmente ou diariamente com o Cristo Eucarístico e profanarmos esse mesmo Cristo sendo coniventes com a miséria e desigualdade social que assola a vida de tantos irmãos e irmãs? Nossas Igrejas têm conseguido atrair os mais pobres e excluídos de nossas comunidades e vivenciado a dimensão profética própria de sua ação evangelizadora? Temos conseguido contribuir para o avanço de uma economia solidária em resposta a este modelo econômico neoliberal marcadamente excludente? Nossos discursos conscientizam e abrem novas perspectivas de engajamento na comunidade ou contribuem ainda mais para o processo de alienação da fé?
        Optemos, pois, por um cristianismo mais autêntico, menos subserviente e essencialmente voltado para a vida, para a prática da justiça e para a verdadeira caridade cristã.


Por César Augusto Rocha - Equipe de Comunicação do CNLB




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